As atividades profissionalizantes ofertadas a adolescentes da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) têm prezado, cada vez mais, pela possibilidade de gerar vivências que extrapolam o conteúdo formal das aulas. Nos últimos dias, sete adolescentes concluíram o curso de Pedreiro e Pintor de Obras, que teve como etapa prática a requalificação de uma creche em Caruaru, no Agreste do Estado. Outro grupo, com nove adolescentes, encerrou os cursos de Artesanato em Material Reciclável e Informática Básica, que, realizados por oficineiros da Funase, trabalham a integração entre alunos e educadores da instituição.
Essas ações são desenvolvidas graças a parcerias estabelecidas com instituições que abraçam a causa socioeducativa. O curso de Pedreiro e Pintor de Obras, por exemplo, foi ofertado pelo Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), por meio do Projeto Reconstrução de Olhares. Desde 2018, a instituição já promoveu outras duas turmas desse curso e também do de Eletricidade Veicular para adolescentes do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) e da Casa de Semiliberdade (Casem) Caruaru. Um dos diferenciais é a participação de um agente socioeducativo da Funase como responsável pelas aulas para os socioeducandos.
“Trabalhamos muito o viés do cuidado com o cuidador, e esse projeto com o IFPE tem sido mais uma das frentes de ação nesse sentido, fortalecendo a presença do educador no processo de qualificação profissional dos socioeducandos”, avalia a coordenadora geral da Casem Caruaru, Anabel Brandão, que participou da cerimônia de certificação do curso, ocorrida no Campus Caruaru.
A restauração do Lar da Criança Nossa Senhora do Carmo, no bairro Salgado, em Caruaru, foi mais um avanço dessa parceria. Entre os meses de agosto e setembro, quando o projeto veio à tona e teve repercussão em todo o Estado, os socioeducandos aplicaram os conhecimentos práticos como pintores e pedreiros para recuperar salas de aula, instalações administrativas e espaços de lazer. A ação também teve o envolvimento da Associação Comercial e Empresarial de Caruaru e de 16 escritórios de arquitetura.
“Eles ficaram entusiasmados quando viram aquele trabalho sendo entregue ao bairro. Foi, de fato, a socioeducação acontecendo. A gente percebe como essa integração com o IFPE e outras instituições parceiras é importante por abrir um leque de possibilidades para os participantes. Eles conseguem enxergar horizontes pós-internação. É algo que fica como exemplo para os outros adolescentes da unidade, que veem isso e querem participar”, afirma a coordenadora técnica do Case Caruaru, Ana Paula Ferreira.
Na Funase, a articulação de parcerias como essas é feita a várias mãos, contando com a participação de gestores locais das unidades socioeducativas e também do Eixo Profissionalização, Esporte, Cultura e Lazer da instituição, no Recife. Para Normando de Albuquerque, responsável pela coordenação do setor, a busca por experiências que extrapolem a sala de aula é um dos desafios do processo de educação profissional na Funase. “É muito importante que os meninos tenham a oportunidade não só de aprender, mas de observar a importância do que aprenderam e puderam realizar com isso. Nesse sentido, a recuperação do Lar da Criança, tal como ocorreu com a construção do centro de treinamento para o curso de Segurança do Trabalho no IFPE Caruaru, permite um reconhecimento que difere da imagem negativa que os cerca. Permite que eles reconstruam o olhar sobre si mesmos”, diz.
INTERNAÇÃO PROVISÓRIA – Em outra unidade da Funase em Caruaru, o Centro de Internação Provisória (Cenip), as atividades profissionalizantes também têm feito a diferença, por meio de uma parceria com o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). Só no ano passado, mais de 160 socioeducandos foram inseridos no curso de Informática Básica. Em 2019, o ritmo se mantém. Nos últimos dias, mais três certificados foram emitidos para concluintes desse curso e para seis do de Artesanato em Material Reciclável.
“Geralmente, buscamos abrir novas turmas de informática a cada duas semanas buscando atender a rotatividade do local, que recebe adolescentes por até 45 dias. Nesta semana, mais uma turma de informática teve início e temos trabalhos dessa parceria assegurados ao longo do mês de novembro”, afirma a coordenadora geral do Cenip Caruaru, Maria Clara Amorim.
Imagens: Arquivo/Funase