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Crônica de Ademar Rafael

FERNANDO ANTÔNIO LUCAS DA SILVA

Muitos jovens de Afogados da Ingazeira não conhecem a importância de Fernandão para o desporto afogadense. Quando cheguei a Afogados, no início dos anos 70, ele trabalhava com o seu tio Andrelino Lucas na agência da Princesa do Agreste.

Fomos colegas de classe do segundo ano até a formatura em contabilidade, no saudoso Colégio Industrial. Pela sua seriedade foi escolhido tesoureiro da turma, cujo presidente da comissão de formatura foi Nivaldo Gomes, o popular Furica. Com mão de ferro, ele cuidou do dinheiro, e durante a excursão para João Pessoa funcionava com o pai da turma, toda despesa passava pelo seu crivo. O certo é que sobrou dinheiro e fizemos uma festa em Campina Grande, onde fomos ciceronizados pelos atuais Desembargadores Alberto e Cláudio Nogueira.

Foi um lateral vigoroso que encerrou a carreira precocemente em virtude de uma contusão no joelho. Não largou o futebol; sempre que podia batia uma peladinha de salão. Por força do seu conhecimento foi convidado para treinar o Barcelona, fantástico time criado por Magno Martins. Não aceitou e juntamente com Antônio Grilo, também convidado, indicaram meu nome para o cargo.

Na condição de juiz apitou jogos importantes em Afogados, inclusive foi o árbitro da estréia de Mimi no Guarani, tendo confidenciado no final do jogo: “Com a minha visão privilegiada, percebi que o espaço em que Mimi
colocou a bola na cobrança da falta, apenas um craque descobre”. Com a sua sobriedade ganhou a confiança de Aderval Viana e João Cordeiro, presidentes do Guarani de Afogados e do Nacional de Tabira, respectivamente. Legitimou-se, portanto, para apitar muitas vezes o maior clássico do interior de Pernambuco.

Em 1976, ao assumir a direção técnica do Ferroviário, convidou-me para treinar o Juvenil. Numa tarde daquele ano, enquanto trabalhávamos no campo do União, recebi a notícia que eu havia sido aprovado no concurso do Banco do Brasil. Fernandão foi um dos primeiros a prestar-me parabéns e desejar-me sorte. Posteriormente nos encontramos no Banco do Brasil, eu como funcionário e ele como vigilante. Por mais amigos que éramos ele teimava em manter certa distância. Era seu jeito. Foi por diversas vezes conselheiro quando eu me excedia nas “farras”.

O maior legado de Fernandão para os que o conheceram foi provar que não há dinheiro que compre a dignidade de um ser humano. Este valor ele imprimia em todos os seus atos dentro e fora das quatro linhas, nunca permitiu qualquer dúvida quanta a lisura das suas atitudes. Para ele a regra do jogo estava acima da fama e da importância do craque, expulsou quem julgou merecedor da penalidade. Muito obrigado pelo exemplo de honra e moral que você nos deixou, caro amigo.

 

 


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