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Crônica de Ademar Rafael

JOÃO PEREIRA DA LUZ

João Paraibano, um dos maiores talentos da cantoria de viola, é o que poderemos chamar de joia rara, cuja lapidação deu-se sob o sol escaldante das barrancas do Rio Pajeú. Quem conheceu o início de sua carreira, como reserva do programa “Quando as violas se encontram” viu que os titulares Raimundo Borges e Moacir Laurentino lhe davam o papel de coadjuvante.

Com uma perseverança invejável João foi ocupando seu espaço até chegar ao maior parceiro: Sebastião Dias. Teve como principais incentivadores meu pai, seu compadre Jotinha, Beijo e João Ézio. O alpendre da casa sede na fazenda Humaitá, de Zezinho Moura, foi palco onde amolou sua guilhotina. Sentar ao lado de João, num pé de parede ou em um congresso é das mais difíceis missões para qualquer cantador. Tive oportunidade de ver muitos poetas, que antes torciam o nariz para João, apanhar dele em todos os baiões de uma cantoria, isto, porém nunca lhe deu força para pisar em alguém, pagou, sempre, as injustiças com versos.

Citar suas maiores estrofes é missão impossível. As seguintes, retiradas do livro “Roteiro de velhos cantadores e poetas populares do sertão”, de Luís Wilson, tem o intuito de embelezar esta crônica. Na deixa de Sebastião Dias: “No meu lar criamos muito/pato, peru e galinha”, Paraibano respondeu: “Me lembro de uma vaquinha/num curral sem ter cancela/comendo uns troncos de palma/cortados numa gamela/eu arriava o bezerro/mãe tirava o leite dela”. Em outra oportunidade ele disse: “Um pé de jerimunzeiro/que a água no tronco empoça/cria força na raiz/bota flor à rama engrossa/travessa a cerca do dono/via vingar na outra roça”.

A letra P acompanha João há muito tempo. Nasceu pobre no sítio Pica-pau de Princesa Izabel na Paraíba, ganhou a alcunha de Paraibano, mora no Pajeú, e é Poeta. Portanto, peço permissão para parar.

Por: Ademar Rafael


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