ESCRAVIDÃO NOSSA.
A exploração do homem por ele mesmo vem desde o tempo do sofrimento hebreu na Babilônia e no Egito, passou pela servidão na Idade Média, pelo período escravocrata no Brasil Império e chega aos nossos dias com o mesmo requinte de crueldade.
Quando vemos as cenas de refugiados em barcos infláveis tentando atravessar o mar mediterrâneo e remetemos nossos olhares para as cenas descritas por Castro Alves no poema sobre os navios negreiros, enxergamos o mesmo filme de segregação entre os povos.
Nos países de origem os escravos atuais são explorados na indústria da pesca, na mineração, na agricultura e outras áreas. Ao serem “acolhidos” nos países que conseguem desembarcar são levados a atividades extremas para o limite do corpo e da alma, em troca de uma ração diária. As senzalas das fazendas de café foram trocadas moradias insalubres, feitas com os restos das sobras e em locais impróprios para sobrevivência de insetos.
Na esmagadora maioria dos países, inclusive o Brasil, os “latinos”, os “africanos” e “indianos” são explorados na execução de serviços indignos para qualquer ser humano. A exploração sexual e o tráfico de órgãos fecham o ciclo de perversidade e de submissão que o modelo atual de escravidão apresenta ao mundo.
A ditadura da tecnologia, a centralização da riqueza e a flexibilização das relações trabalhistas sugerem que a situação agora verificada tende a se agravar nas próximas décadas. Se levarmos em consideração os cenários disponíveis a legião de excluídos crescerá em escala geométrica.
Vozes isoladas ecoam sem serem captadas. Pedidos do Papa Francisco e de outros humanistas são ignorados. Nós relutamos em estender a mão para os que estão nos batentes abaixo do nosso, mas, para ficarmos na zona de conforto suportamos as pisadas dos que estão nos batentes superiores. O individualismo e a falta de misericórdia serão os insumos que alimentarão o sistema vigente.
Por: Ademar Rafael