Um fato inédito ocorreu na Câmara do Recife no início desta legislatura: pela primeira vez, duas mulheres ocupam as lideranças do governo e da oposição. Do lado do prefeito Geraldo Julio (PSB), está a vereadora Aline Mariano (PMDB), que foi secretária da pasta de Combate ao Crack na primeira gestão. Fiscalizando com olhar mais crítico as ações da prefeitura, está a vereadora Marília Arraes (PT), líder da oposição. Embora estejam em lados ideológicos e políticos divergentes, as duas têm vários pontos em comum.
Ambas estão no terceiro mandato, vieram de campos opostos e ocuparam cargos no Executivo. No primeiro ano de gestão de Geraldo Julio, em 2013, Aline, ainda no PSDB, foi líder da oposição. Já Marília, que saiu do PSB, integrava a bancada governista e foi secretária de Geraldo Julio no início do governo.
Marília e Aline concordam em um ponto – o fato de ser mulher não interferiu na escolha dos nomes para s lideranças. O que pesou mesmo foi a atuação de cada uma em seus campos políticos. “Foi por conta dos posicionamentos os últimos tempo e do tempo de mandatos que tenho, da experiência da Casa”, explica Marília. Como vereadora mais votada da oposição, Marília acredita que a quantidade de sufrágios recebidos não influenciou na escolha para a liderança. “Acho que meus posicionamentos levaram a essa votação, mas não acho que o número de votos interferiu não”, acrescentou.
Para Aline, o que pesou na escolha do seu nome por parte de Geraldo Julio foi o bom trânsito que tem na Casa. “Por mais que meu nome tivesse uma boa aceitação, ele não ia poder impor isso. Naturalmente, foi algo que conquistei, esse trânsito na Casa”, argumentou.
Ainda na opinião de Aline, a escolha de duas mulheres para as principais lideranças, foi um grande avanço. “Mesmo sendo minoria nas casas legislativas, somos maioria do eleitorado. Pode motivar mais mulheres a participar de forma mais ativa na política. A gente passou a vida inteira escutando que política não é lugar de mulher. Vamos quebrando esse tabu”, opinou.
Dentro da bancada de oposição, Marília diz não sofrer preconceito. Já na bancada de governo, ela afirma não perceber a mesma receptividade. “Por parte dos integrantes da bancada de governo, às vezes a gente sente um tipo de tratamento que a gente vê, que se fosse um homem num lugar, não teria”, declarou.
Outro ponto de concordância é sobre o fato de terem migrado da situação para oposição e vice-versa, que poderá ajudar nas novas funções. “Eu acho que vai ser mais fácil porque, ao que parece, o estilo de Aline não é tão subserviente quanto outras lideranças de governo que passaram pela Câmara. Ter sido governo, ajuda muito. Sempre digo que o maior motivo de eu ser oposição hoje é ter feito parte do governo um dia. Eu vi de dentro como era que funcionava”, declarou Marília. “Eu conheço todos os lados. Sei o que é ser líder da oposição, sei o que ser do Executivo, porque fui secretária, sei as dificuldades de estar promovendo a política pública. Isso faz com que eu conheça ainda mais as entranhas do que representa os dois lados”, pontuou Aline.
AMIGAS
Apesar das divergências políticas, as duas afirmam que são amigas. “Nós sempre estivemos em lados divergentes. Quando eu era governo, ela era oposição. Quando eu passei a ser oposição, ela passou a ser governo. Mas a gente tem uma relação pessoal muito boa. Desde que a gente se conheceu, se respeitou. Aline é uma pessoa que tem uma noção de política, diferente de muita gente que a ache que, porque é adversário político, tem que ser inimiga”, disse Marília sobre Aline.
“Nós vamos discordar ideologicamente e das questões administrativas muito, não tenho dúvida nenhuma. Ela vai cumprir o papel dela como oposição, eu vou cumprir o meu como governo. Mas a minha relação com Marília sempre foi muito boa. Nós somos amigas. Tenho um carinho muito grande por ela. A gente sempre respeitou as posições divergentes. A gente tem que fazer política com grandeza. Somos adversárias políticas, não somos inimigas”, afirmou Aline. (Mariana Araújo – JC)