O argumento de golpe usado exaustivamente pelo Partido dos Trabalhadores, desde o afastamento da ex-presidente Dilma, em agosto último, perdeu totalmente o fôlego após o resultado das urnas de 02 de outubro. Nada melhor que uma eleição atrás da outra, na rotatividade própria ao exercício democrático do poder. Mesmo quando a decisão eleitoral diz respeito a cargos diferentes, como ocorre no Brasil de dois em dois anos.
Diante da falácia golpista, os eleitores de todo Brasil foram às urnas no primeiro domingo do mês e exprimiram com veemência a posição em que se encontram. E a posição mostrada de norte a sul, especialmente nas capitais, foi incisiva: pelo golpe legítimo da democracia, na contagem dos votos do povo, o partido que denunciava um golpe de Estado e se arvorava em falar como único detentor da vontade popular, sofreu o maior revés da sua história.
Os números do encolhimento são incontestáveis. Em 2012, o partido de Lula colheu 17,2 milhões de votos e elegeu 644 prefeitos. Desta vez, foram 6, 8 milhões de votos – queda de 60% – e a eleição, no melhor cenário, de 263 prefeitos, consolidando a redução de 59% em relação ao último pleito municipal. O baque na receita total gerida por prefeitos petistas é maior, de 84%, com base em dados da Secretaria do tesouro Nacional. A influência sobre o contingente populacional também despencou, de 38 milhões de pessoas para 6 milhões. Enquanto isso, outras agremiações assumiram o protagonismo, especialmente o PSDB – que foi chamado de golpista – que passa a ter influência semelhante ao nível da que possuía o PT quatro anos atrás.
O desempenho do partido que virou o centro das investigações da Operação Lava jato, e se tornou o reflexo da corrupção no País nos últimos 13 anos, foi irreconhecível, por exemplo, nas capitais nordestinas. A melhor colocação aconteceu no Recife, com a ida ao segundo turno. Em
Natal, Fortaleza e João Pessoa, o PT chegou apenas em terceiro lugar na disputa. Em Maceió voltou ao tempo em que mal aparecia nas pesquisas, amargando o quinto lugar. E nas demais capitais, o partido sequer apresentou candidatura própria. Em Recife, mesmo levando a eleição para o 2º turno, o partido só conseguiu eleger dois vereadores.
Como diria uma grande amigo meu: “o pau cantou” no País inteiro. Em São Paulo, a vitória do tucano João Doria ganhou repercussão nacional, entre outras razões, pela conquista de votos em regiões da periferia, redutos tradicionais do Partido dos Trabalhadores.
O ex-presidente Lula, em seus inflamados discursos, tem usado o refrão: “me aguardem em 2018”. Diante do cenário atual, cabe aqui a seguinte pergunta: será que dois anos é tempo suficiente para juntar toda a “cacaria” que o partido espalhou nesses treze anos de governo? E mais: Se o PT não reconhecia que o processo de impeachment da ex-presidente Dilma surgiu nas ruas, o resultado das urnas deixou bem claro que, se houve golpe, com certeza, os tiros de misericórdia que atingiram a ex-presidente Dilma, partiram das armas que estavam em poder do eleitorado.
Danizete Siqueira de Lima – Afogados da Ingazeira – PE – outubro de 2016.