Na década de 1960, a dupla DOM e RAVEL estourou nas paradas com uma safra de músicas que ainda hoje são tocadas nas rádios brasileiras. Dentre elas, EU TE AMO MEU BRASIL, fez grande sucesso por ocasião da realização da Copa do Mundo no México, em 1970, sendo regravada, inclusive, pela banda Os Incríveis. Outros sucessos da dupla que não conseguiram envelhecer foram: você também é responsável, animais irracionais e um dos preferidos por este humilde cronista: só o amor constrói, quase 50 anos depois, vem me oferecer munição para a crônica que segue.
O ódio, um ódio feroz e implacável, está consumindo os brasileiros, inclusive afastando amigos, criando discórdias em famílias, descambando para a agressão física. O ódio, como sabemos, nada constrói. Quando amainar esse clima pesado de “terceiros” ou “quartos” turnos, seria bom que o brasileiro retomasse sua tradição mais recente, pós colonialismo, pós escravidão, pós golpismo desenfreado, a qual progressivamente o estava aproximando da civilização, da contemporaneidade de um mundo com boa quilometragem de cultura, da educação.
Parafraseando o jornalista Juracy Andrade, ”eis um ponto que sangra o País, a educação”. Há poucos dias, o senador Cristovam Buarque, numa entrevista, falava da nossa calamidade pública na área do ensino e educação, com escolas públicas precárias, professores despreparados e mal pagos, alunos desmotivados e um total descaso do poder público.
Enquanto países bem próximos como Argentina e Uruguai, investem em bom ensino desde o início do século passado, sucessivos desgovernos nossos involuem no setor.
Hoje ainda lembro do meu tempo de criança e das escolas que eram -quase todas- referência em nosso município, começando pelo Grupo Escolar Padre Carlos Cottart e seguindo até o Colégio Normal e o Ginásio Pinto de Campos. O sacerdócio era exercido de tal forma que as duas últimas escolas citadas eram conhecidas como o Colégio de D. Ione e o Ginásio de Luiz Alves, pelo amor que eles dedicavam à causa. O ensino público era excelente. Como não lembrar de professores como Durval Galdino, Socorro Dias, Elvira Siqueira, Geraldo Cipriano (in-memorian), Waldecy Menezes (in-memorian) e tantos outros daquela época?
Infelizmente nossas autoridades só pensam em fazer política, enquanto mais da metade dos deputados federais está emaranhado nas teias da justiça; e mais de um terço dos que fizeram parte da comissão do impeachment do senado responde a inquéritos do STF. As pessoas se
agridem nas ruas, por causa do Uber, por conta das opções políticas e até religiosas. Aquele espetáculo grotesco dos deputados declarando seus votos no impedimento da ex-presidente Dilma, por causa dos filhos, dos netos, é cômico se não fosse trágico.
Precisamos de uma Constituinte exclusiva, elaborada por personalidades, juristas sérios, cidadãos que não sejam políticos profissionais. Seria uma forma de mudar radicalmente todo o processo político, isolando essa casta de privilegiados que usam (ao seu bel prazer) o Congresso Nacional como se fosse um balcão de negócios.
Danizete Siqueira de Lima – Afogados da Ingazeira – PE – Outubro de 2016.