Com o encerramento das Olimpíadas, aos poucos, as coisas vão voltando ao seu curso normal e, como não poderia ser diferente, a palavra de ordem passou a ser a conclusão do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, que já se arrasta há mais de 120 dias, tempo considerado longo se levarmos em conta que o país parou e esse estado de letargia só serve para postergar a agonia do paciente. Considerando o desgaste emocional e político por onde passam os atores e coadjuvantes desse processo, comparada a forma como deu-se a saída do Reino Unido da União Europeia, achamos por bem pegar um “gancho” numa matéria recente do Jornal do Commercio, assinada por DAYSE DE VASCONCELOS MAYER.
Quando não existia o jogo do Pokémon – a nova febre digital – as crianças gostavam de brincar da dança das cadeiras. Vários assentos eram postos em círculo, mas colocava-se um assento a menos que as crianças. A música começava a tocar e os meninos giravam ao redor dos bancos até que a melodia findasse. Havia sempre o medo de que a canção cessasse abruptamente e ficássemos sem banco. Por isso não era raro que o ritmo em torno do círculo fosse amainando e alguns participantes sentassem antes da hora.
Como diria o famoso químico Lavoisier: “na vida nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. É o que ocorre com a política. Por vezes a música assume um toque mais célere e os personagens descarregam uma boa dose de adrenalina. Outras vezes o ritmo é mais lento e as figuras tendem a reduzir o passo. A questão central é mesmo o poder, palavrinha afrodisíaca, luxuriosa e lasciva. Curioso é que há fatos que podem transformar, acidentalmente, a voluptuosidade do poder. Acontece quando estamos numa encruzilhada: edificar ou desconstruir?
Basta sair da nossa paróquia – o Brasil – e sobrevoar outras realidades. Certamente a nossa sociedade, mais preocupada com problemas caseiros, fica distante das questões que dizem respeito, por exemplo, à saída do reino Unido da União Europeia. O referendo comunicou ao Primeiro Ministro David Cameron a aflição que gera qualquer divórcio ou separação e o esforço de reconstrução que o acontecimento exige. Muito britanicamente, Cameron renunciou.
Diferente do que sucede em nosso País, tudo foi muito rápido e Theresa May assumiu as funções, com as devidas reverências perante a rainha. Antes, tivemos, diante do n° 10 da Downing Street – residência e escritório do primeiro-ministro -, o discurso de despedida de Cameron. Concluído o ato oficial, o político caminha na direção da casa 10. Convicto de que câmera e som estavam desligados, ele cantarola uma musiquinha.
Qual a razão de tanto acendimento ou alegria? O povo costuma chamar o poder de “osso canino”: nenhum cão deseja largar. Mas nem sempre é assim quando está em jogo o interesse público. É o caso do ex-ministro. Insistir em mordiscar o osso seria revelar que os interesses pessoais eram mais relevantes que o interesse de todos. Uma boa lição inglesa.
Pena que aqui em nossa “República de bananas” as coisas funcionem ligeiramente diferentes.
Danizete Siqueira de Lima – agosto de 2016.