Andando pelas ruas de nossa cidade, mais precisamente por aquelas onde se concentra o maior número de estabelecimentos comerciais, faz pena escutar o clamor dos comerciantes pela redução drástica em suas vendas, independentemente da atividade comercial exercida. Além dos estabelecimentos que já fecharam suas portas o que mais dói em nossas almas são as reduções de salários ou os pagamentos com atraso dos funcionários que ainda não foram demitidos. São trabalhadores e – em sua maioria – pais e mães de famílias que tentam viver de forma digna criando e educando os seus filhos. É traumático saber que vivemos em um país gigante, cheio de riquezas, mas de uma desigualdade social incomparável.
Para alguns incautos a crise local está ligada ao fato de vivermos em uma cidade com poucos recursos, o que é um ledo engano. Morei em Recife durante dez anos (2005/2015) e comumente andava pelas feiras do Mercado São José, Av. Dantas Barreto, Conde da Boa Vista, Rua da Concórdia e adjacências e ficava impressionado com a quantidade de pessoas que circulavam por essas artérias. Para se ter uma ideia, recentemente, estive por lá e saí com um amigo para tomarmos um café naquela padaria famosa que fica na Rua da Imperatriz. Era uma segunda feira, por volta das 10 horas da manhã e o que vimos deixa qualquer um estarrecido.
Uma das avenidas mais importantes da capital, a qual teve a honra de acolher como ilustre morador, Joaquim Nabuco, um dos escritores, políticos e diplomatas mais notáveis do estado e do País, agora dá dó passar por ela. Lojas com placas de vende-se e aluga-se, como aqui, é o que mais tem. E, nas casas comerciais que ainda resistem, os vendedores conversavam desanimados e solitários, catando e convidando quem passava para entrar, oferecendo mercadorias, em vão. Os camelôs, estes nem se fala, faz tempo que sumiram.
Diante do quadro, perguntei a mim mesmo: cadê a Rua da Imperatriz que eu conheci? Isso aqui é o coração da Boa Vista; é o centro da capital. Até a igreja que fica na esquina com a Rua do Hospício me pareceu abandonada pelos fieis. Não fosse ela centro de reuniões das pastorais e grupos de canto, pouquíssimas pessoas veríamos em seu recinto. Seguindo um pouco em frente cruzei com a Pça. Maciel Pinheiro que se encontra em estado deplorável. Ali bem próximo, na Rua do Aragão, está a casa que abrigou – em sua infância – uma das maiores poetisas da história: Clarice Lispector, entre 1925 e 1937, quando a família mudou-se para o Rio de Janeiro. Poderia ter sido tombada mas, também, encontra-se em total abandono.
Me contive para esconder as lágrimas. Saí cabisbaixo e muito pensativo. À noite, conversando com um parente como que para desabafar, ouvi dele o seguinte: Danizete, pelas suas observações medimos a vexatória situação econômica de um Estado e de um País. Não precisa você ser economista para deduzir que, se o comércio não vende, a indústria não tem mercado para colocar seus produtos. E se a indústria não produz, o comércio não tem a quem comprar, ai vem a chamada “bola de neve”.
A explicação é simples e de fácil dedução, respondi; difícil mesmo é entender porque tínhamos que chegar ao fundo do poço.
Danizete Siqueira de Lima
Afogados da Ingazeira – PE – julho de 2016.