Tolerar, sim. Omitir-se, jamais!
Embora seja vista por muitos educadores e estudiosos do assunto como um gesto de grande virtude e, não ignorando que “a tolerância consiste em um estado permanente de boa vontade, dando margem às diferenças que vemos em outros, mesmo que discordemos dessas diferenças”; paradoxalmente, tolerar também exige limites que caso fujam ao controle pode significar cumplicidade com o errado, omissão de culpa e falta ou fragilidade ética; em alguns casos poderá ser confundida até com covardia.
Concomitantemente, lembramos a tolerância dos judeus com os, sempre radicais, palestinos; dos índios latinos que tiveram suas terras invadidas e grande parte de suas famílias assassinadas pelo ditos e falsos “colonizadores”; ah! ninguém sofreu tanto quanto os negros africanos que durante séculos eram negociados como mercadorias para o trabalho escravo em várias partes do mundo, sob a espada e a chibata da nobreza constituída exclusivamente de uma minoria branca. Ainda hoje israelenses e árabes não chegaram a um acordo sobre os territórios ocupados em plena “Terra Santa” que já se arrasta desde 1948; em 2009 o Supremo Tribunal Federal determinou que a área Raposa Terra do Sol, no estado de Roraima, passasse a ser região exclusivamente indígena, enquanto que os Guarani-Kaiowa de Dourados, no Mato Grosso do Sul, segundo maior polo de tribos nômades urbano do Brasil tiveram seus territórios invadidos pelos grandes latifundiários, e atualmente 11 mil membros dessa comunidade vivem imprensados em uma pequena área, sobrevivendo em condições desumanas e indignas.
O conhecido professor Leonardo Boff disse certa vez que “não devemos ter tolerância com aqueles que têm poder de erradicar vida humana… com aqueles que assassinam inocentes… com aqueles que escravizam menores para produzir mais barato e lucrar no mercado… com terroristas que em nome de sua religião ou projeto político cometem crimes cruéis… com as máfias das armas, das drogas e da prostituição que incluem sequestros, torturas e morte…”
Adicionamos a essas nocivas ações, a total desmoralização dos congressistas brasileiros e até mesmo do executivo, segundo minuciosas e responsáveis investigações executadas pela Polícia Federal, Ministério Público Federal e Juízes Federais. Jamais na história republicana brasileira presenciamos desastre político, nem mesmo parecido, ao que se desencadeia contra os congressistas de Brasília e executivos das maiores empreiteiras do país.
Não podemos, jamais, sermos tolerantes perante tantos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro; vale recordar que esses acusados e julgados culpados, foram eleitos pelo povo brasileiro para serem seus legítimos representantes legais. Pasmem! Então, cabe-nos neste exato momento uma profunda confissão de mea culpa e partimos para defesa da justiça. Caso contrário nossos princípios serão nulos e nos tornaremos colaboradores da coisa ilícita.
A democracia às vezes assusta, mesmo assim continua sendo extremamente necessária, enquanto que a tolerância usada dentro dos níveis de civilidade jamais se transformará em mera omissão e transgressão das Leis e dos costumes de um povo.
CARLOS MOURA GOMES
Gravatá/PE – junho/2016