Abuso Sexual Infantil: consequências para uma vida inteira
A partir da aprovação da Lei Federal nº. 9.970/2000, o dia 18 de maio ficou instituído como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. O motivo reside no fato de que uma menina de 8 anos foi sequestrada, violentada e cruelmente assassinada no Espirito Santo. Seu corpo apareceu seis dias depois, carbonizado, e os seus agressores nunca foram punidos. No “Caso Araceli”, como ficou conhecido, e que ocorreu há quase 40 anos, a vítima veio a óbito. Contudo, em diversas
outras situações de abuso infantil, ainda que a vítima sobreviva, os traumas gerados persistem por uma vida inteira.
Os efeitos do momento traumático não são apenas físicos, mas sobretudo psicológicos e sociais. Alguns deles: disfunções no sono, isolamento, consumo de álcool e outras drogas, condutas de autoflagelo, comportamento suicida, hiperatividade, diminuição do desenvolvimento escolar, medo generalizado, agressividade, culpa e vergonha, depressão, rejeição ao próprio corpo, masturbação compulsiva, problemas de identidade sexual, estágio infantil
prolongado ou regredido.
Na maioria das vezes, o agressor não se encontra longe da vítima. Em 88% dos casos de violência sexual infantil, ele faz parte da convivência familiar, sendo que, a cada dez crianças, quatro foram agredidas pelo próprio pai e três, pelo padrasto. O tio é o terceiro agressor mais comum (15%), seguido de vizinhos (9%) e primos (6%). Pessoas desconhecidas representam apenas 3% dos casos.
Diante das informações, faz-se necessária uma observação mais profunda das mudanças no comportamento das crianças no convívio sócio-familiar. Procurar, no diálogo, descobrir a origem e as pessoas envolvidas no acontecimento. Após a revelação, a criança precisa sentir segurança não só física, como também emocional e, muitas vezes, a família não consegue ter a estrutura adequada para isso. Assim, a procura do profissional é essencial para o
equilíbrio da saúde psicológica das vítimas envolvidas, uma vez que não somente a criança foi agredida, mas também todos aqueles que zelam por ela.
Thaís Alves é Psicóloga Clínica (CRP: 02/17550), integrante da equipe do Centro de Diagnóstico Iracy Pires, em Afogados da Ingazeira; é mestranda em Saúde Pública e todas as terças assina a coluna PSICOLOGIA INFORMA.