Com o broche de deputado na lapela, apesar de estar com o mandato suspenso por decisão do Supremo Tribunal Federal, Eduardo Cunha, voltou nesta quinta (19) à Câmara para falar ao Conselho de Ética.
Em quase sete horas de depoimento, ele negou ter mentido aos colegas, negou ter recebido propina, negou ter contas no exterior e negou que esteja dando as cartas no governo Michel Temer. A sessão terminou antes que negasse o próprio nome.
“Eu não tenho conta no exterior”, iniciou Cunha, ignorando tudo o que já foi revelado por procuradores do Brasil e da Suíça. O relator perguntou por que o nome da mãe dele era a senha registrada em formulários do banco Julius Baer. “Não é minha autoria. Não é minha letra”, respondeu, sem mover um músculo da face.
E por que o lobista João Henriques, preso na Lava Jato, disse ter transferido US$ 1 milhão para sua conta na Suíça?, questionou um deputado. “Isso não faz parte da representação”, desconversou Cunha.
O peemedebista insistiu na versão de que os milhões na Suíça não são dele, e sim de um trust. “O trust não tem dono, não é conta, não é investimento, não é patrimônio. O trust é uma benção!”, ironizou o deputado Sandro Alex, do PSD. “Não existe bênção”, respondeu Cunha, dono de uma empresa chamada Jesus.com.
“Se o dinheiro dessa conta compra um vinho de US$ 1.000, eu pergunto: Quem bebe o vinho, o senhor ou o trust?”, perguntou Júlio Delgado, do PSB. O depoente fingiu não ouvir.
Em meio a tantas negativas, Cunha também ajudou a deixar algumas coisas mais explícitas. Depois de emplacar uma série de aliados no governo Temer, ele disse não ser responsável por nenhuma nomeação.
“Não tem um alfinete indicado neste governo por Eduardo Cunha”, afirmou, falando de si mesmo na terceira pessoa. “Eu não indiquei nem indico ninguém. Mas se eu o tivesse feito, eu teria legitimidade, porque é o meu partido que está no poder”, disse. Será que agora ficou claro? (Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo)