A FESTA COM O DINHEIRO PÚBLICO.
De vez em quando dou umas voltas nos blogs de alguns amigos e fico sempre impressionada com as inúmeras notícias de festas que irão ocorrer, seja para comemorar o aniversário dos municípios, seja para agradar ao os santos padroeiros.
Na verdade, esclarecendo melhor, fico impressionada não com as notícias, mas com a coragem desses gestores (?) públicos de contratarem artistas de peso, de renome nacional e que está a todo vapor na mídia, por valores insuportáveis para a economia daquele município. É sabido (até por mim que não conheço bem do assunto) que ao Safadão não se paga menos de 600 mil reais por um show de menos de duas horas. É certo que esse artista é o que mais caro cobra para se apresentar. Os outros tem um cachê de menor escala, porém nunca menos que 100 mil reais. Ainda assim é muito dinheiro para gastar numa noite.E é muito dinheiro púbico jogado no lixo, quando poderia ser investido nas necessidades mais básicas daquele povo tão sofrido.
Não tenho tempo de pesquisar qual o valor do FPM que é repassado para essas prefeituras, Mas sabe-se que não é muita coisa, pois a maioria delas dependem quase que exclusivamente dessa fonte de renda para se sustentar, repassar o duodécimo do Legislativo (alguns vereadores com salários altíssimos para reunir-se uma vez por semana), honrar a folha de pagamento (inclusive os dispensáveis cargos comissionados criados para os apadrinhados) e todas as outras despesas necessárias e urgentes. Já ouvi falar de um prefeitura que, com os salários atrasados, contratou uma dupla sertaneja de sucesso para cantar na festa de aniversário da cidade. E de outro que contratou a Ivete Sangalo para a festa de inauguração de um hospital onde faltavam leitos, salas de cirurgia etc. Como pode? É ou não é revoltante? Quanta coisa pode se fazer com um cachê desses que é pago por ai, não é mesmo? Posso dar vários exemplos: Calçamentos, moveis escolares, livros, merenda, conceder gratificação aos professores, contratar médicos, adquirir remédios… enfim, uma gama de coisas muito mais importantes para a comunidade que uma festa, do que uma noite apenas e nada mais. Não se pode negar que precisamos de lazer. Isso é certo, todos precisam. Porém, a festa só pode ser feita com o que sobra. Pelo menos é assim na casa da maioria das pessoas responsáveis, pois foi assim que todos nós, pobres mortais, apreendemos.
E me pergunto porque os governantes tem tanta dificuldade para aplicar esses conceitos básicos de economia doméstica na gestão do dinheiro público? Na verdade, eles estão pouco se lixando se a escola pública presta ou não; se ela funciona ou se fecha; se o hospital tem ou não condições de atender a população. Afinal, seus filhos não estudam lá e por certo tem plano de saúde e, quando necessitam de atendimento, tem inúmeros médicos e hospitais a sua disposição.
Como entender essa escolha de gastar dinheiro numa festa, especialmente nesses tempos de Zica, Dengue e Chicugunha, quando a população está sofrendo nos postos de saúde e hospitais, jogados em macas imundas, sem qualquer assistência? A pretexto de estarem promovendo lazer, esses governantes torram o dinheiro público, enchem os bolsos de alguns e enganam o povo.
Por: Drª Célia Morais
Juiza de Direito