Nesse país da piada pronta, como diz o humorista José Simão, alguém acredita que a presidente possa perder o seu mandato, ou tudo não passa de um pano de fundo para abafar os escândalos cada vez mais assombrosos e dar um pouco de fôlego para que o governo possa findar o tão conturbado exercício de 2015?Os juristas mais famosos acham que os argumentos usados por quem defende o Impeachment não encontram amparo legal na Constituição. Pelo que entendemos, Dilma cometeu irregularidades, mas o que ela fez é uma prática corriqueira e aqui no País das maravilhas, você pode fazer as coisas erradas desde que não seja o único.
Pedaladas fiscais à parte, a grande verdade é que o País parou. Nada funciona. Não temos equipe econômica, não temos Congresso, não temos presidente. O que sobra é a impunidade, a corrupção, o desgoverno e a vergonha de ocuparmos as páginas dos jornais mais famosos do mundo denunciando tanta podridão. E o pior: tudo por nossa culpa. Se o nosso país fosse sério e as instituições funcionassem como deveriam, as coisas tomariam outro rumo. Se não vejamos: alguém, de sã consciência, acredita que houve lisura na reeleição de Dilma?
Pelo que entendemos não existe resposta pois já não vale fazer a pergunta. Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o homem que deveria procurar saber se aconteceu algo de errado na história, “não interessa à sociedade” discutir essas “controvérsias”; é inconveniente que a justiça se meta nisso, pois a eleição já foi, os vencedores devem “usufruir as prerrogativas de seus cargos” e os derrotados devem se preparar para a próxima. Não será possível, assim, saber se houve ou não houve algum crime. Pela vontade da Procuradoria não deve haver investigação, sem investigação não há prova e, sem prova, ninguém pode dizer que houve crime. O passado passou e as dúvidas ficam arquivadas. É melhor não fazer perguntas, pois há o risco de se encontrar respostas.
A campanha para a reeleição de Dilma Rousseff e do seu entorno é uma viagem completa ao trem fantasma da política brasileira. Apareceram a empregada doméstica que, pela contabilidade oficial, recebeu 1,6 milhão, mas não sabe que recebeu, o motorista que é sócio da empresa prestadora de serviços à candidatura oficial, o pobre-diabo que é promovido a empresário para passar notas fiscais frias. Há uma indústria gráfica que recebeu mais de 20 milhões de reais da campanha, mas não tem máquinas gráficas, nem funcionários, nem sede social. Há de tudo – e ao mesmo tempo não há nada – pois, sem uma decisão judicial, os fatos que ocorreram não produzem efeito algum. Por via de consequência, não se pode dizer que a presidente é culpada ou inocente; ficamos apenas com uma discussão de hospício.
É como disse um comentarista em matéria publicada numa grande revista “Já seria bem ruim se a questão ficasse só nesse porre mental, mas é pior. Antes e além da rixa entre a PGR e a Justiça Eleitoral, o que existe aqui é um caso para a vara de falências do mundo moral”.
É por essas e outras que não acreditamos em “Impeachment”. Se a presidente Dilma foi eleita com contribuições oficiais, contabilizadas e pagas em moeda corrente de empreiteiras de obras públicas, fornecedoras do governo e isso é considerado lícito, não serão as pedaladas ficais ou simplesmente o não cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal que irão lhe tomar um poder conseguido cm tanto sacrifício.
Danizete Siqueira de Lima – Dezembro de 2015