Aluna da Ecole Nationale Supérieure d’Architecture de Paris-Belleville, a arquiteta pernambucana Rebeca Vieira de Melo conheceu o horror provocado pelos múltiplos atentados em Paris. Depois de viver momentos de medo para cruzar uma das regiões atingidas pelos ataques, ela conversou com a reportagem do Diario sobre a experiência marcante.
Antes de tudo, como você está?
Tô chocada com a situação ainda. Foi no bairro onde fica minha escola. Eu tinha saído do curso com uns amigos e estava indo encontrar uma amiga. Eu estava andando, quando ouvi um barulho muito alto vindo da rua ao lado. Na hora, achei que fossem fogos de artifício ou que estivessem demolindo algum edifício. Quando a gente ia entrando nessa rua, vinha um rapaz correndo na direção contrária dizendo: “Não entrem nessa rua! Acabou de ter um fuzilamento!”. Nesse momento, senti o cheiro de pólvora muito forte e bateu aquele medo. Começamos a andar mais rápido e em seguida a correr e acabamos entrando num café para tentar entender exatamente o que era. Ficou aquele clima de terror e começaram a chegar as notícias pelo celular. Foi quando começamos a entender alguma coisa.
E como foi a volta para casa?
Eu não conseguia entender a dimensão do que estava acontecendo. Na volta pra casa, vimos que as ruas estavam todas fechadas por policiais e tinha aquele barulho incessante de polícia, bombeiro, ambulâncias… Foi quando a gente começou a compreender a proporção do que estava acontecendo. A gente acompanhava a contagem de mortos nas televisões dos bares. Cada vez, era um número diferente: sete mortos, depois 18 mortos, 20 mortos e a gente foi andando e acompanhando. Aí, foi um momento de muito medo essa volta pra casa. No primeiro bar onde parei, veio então uma moça e disse: “os caras saíram do carro e fuzilaram todo mundo que estava na calçada…”
Como era o clima na cidade no momento dos ataques?
Apesar de já ser outono, não fazia muito frio e as pessoas estavam bebendo nas calçadas. Estavam na rua… Sexta-feira, todo mundo saindo pra relaxar, tomar um vinhozinho. Um terror… Voltando pra casa então, aquele clima: tudo fechado ou fechando, as ruas vazias e o barulho das sirenes. Quando cheguei em casa, liguei a televisão e percebi o tamanho do risco que eu estava correndo porque eu estava muito próximo da história. Você fica sem acreditar que aquilo está acontecendo. Agora, estou tentando me acalmar. Mas muito chocada. Chocada. Bicho, são lugares que a gente passa sempre. Faz parte do dia a dia. Estou muito chocada. Muito. Mas agora cheguei em casa. Cheguei em casa e estou bem.
Qual a orientação que está sendo dada à população?
Estou acompanhando tudo na TV. O presidente foi à televisão e disse que era um Estado de Guerra. Um Estado de Guerra Urbana e que todos devem evitar sair de casa. Amanhã, as escolas que iriam ter aula estarão todas fechadas.
Mas o clima é de medo…
Sim, o clima é de medo. Dá pra sentir. Enquanto a gente estava voltando pra casa e ia tomando noção do que estava acontecendo pelas televisões dos bares, ficava aquele medo de que algum carro chegasse e começasse um atentado. De homens descendo atirando… Porque foram em lugares do cotidiano. Imagina! Eu estava indo beber num lugar como um daqueles onde as pessoas chegaram atirando. Vamos ver o que acontece nos próximos minutos porque ainda estou me acalmando e tentando aceitar o que aconteceu. E muito chocada.(Diário de Pernambuco)