Hoje vamos até o outro lado do mundo para falarmos de uma decisão tomada pelo governo chinês, com o firme propósito de conter o envelhecimento da população, estimular a economia e ajudar a corrigir o desequilíbrio entre homens e mulheres.
A medida que acaba com 35 anos de uma política altamente criticada por seus excessos, em particular os abortos forçados, era esperada depois que muitos especialistas chineses de agências oficiais ou centros de pesquisa já haviam pedido nas últimas semanas ao governo que avaliasse o seu conteúdo. Conforme a agência Xinhua, a decisão histórica foi tomada durante a quinta sessão plenária do Comitê Central do Partido Comunista, que terminou na última quinta feira, 29/10, depois de quatro dias dedicados ao próximo plano quinquenal (2016/2020).
Para quem não sabe da rigorosidade chinesa, reportamo-nos ao final dos anos 1970 para falarmos da política usada para frear a enorme natalidade da época, estimulada durante anos pelo fundador do regime, Mao Tsé Tung (1949/1976). A política do filho único tinha, além disso, algumas exceções: a quase totalidade das 55 minorias étnicas do país não tinham que obedecê-la e também os casais de zonas rurais podiam ignorá-la caso seu primeiro filho fosse uma menina.
O resultado foi o envelhecimento da população e o grande desequilíbrio entre homens e mulheres, geralmente em zonas rurais, onde os meninos são mais valorizados que as meninas. As denúncias de abortos seletivos e de infanticídios são frequentes, apesar de a propaganda oficial pedir que a população abandonasse a mentalidade feudal. Em 2014 nasceram em média 116 meninos para cada 100 meninas.
Alguns estudos oficiais cifram em 30 milhões os homens chineses que não vão encontrar uma esposa, a chamada “crise dos solteiros” que, segundo autoridades, poderá gerar violência e instabilidade.
Mudando as regras do jogo, a partir de agora, os casais estão autorizados a terem até dois filhos com o objetivo de corrigir o desequilíbrio entre os sexos e conter o envelhecimento da população. Digna de registro, a medida nos parece ousada e mais que justa. Afinal, esse é o papel do governo, (quando e onde ele existe).
Sabemos que governar é uma tarefa difícil, exige pulso forte, determinação e muita vontade de fazer. Aqui, no nosso sofrido Brasil, as coisas funcionam ligeiramente diferentes.
Danizete Siqueira de Lima – Novembro de 2015.