O engenheiro Roberto Gonçalves, ex-gerente executivo da área Internacional da Petrobras, disse nesta sexta-feira (20) à Polícia Federal que “não sabe explicar” por que o lobista Mário Góes afirmou ter pago propinas a ele no esquema de corrupção instalado na estatal entre 2004 e 2014. Alvo da Operação Corrosão, 20.ª fase da Lava Jato, Gonçalves foi preso pela PF na segunda-feira, em caráter temporário por cinco dias, e o juiz Sérgio Moro prorrogou nesta sexta sua prisão por igual período, cinco, atendendo ao pedido do Ministério Público Federal.
Acompanhado de seu advogado, James Walker, o ex-gerente depôs à delegada Renata da Silva Rodrigues, da PF em Curitiba, e negou ter recebido vantagens indevidas. Mário Góes é apontado como operador de propinas e fez delação premiada. Segundo ele, o repasse a Gonçalves teria saído de contratos celebrados pela Sete Brasil, criada em 2010. Outro delator, o empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, afirmou que entregou propinas ao então gerente executivo “em espécie, por cerca de seis vezes”, no Rio de Janeiro. Gonçalves disse ter conhecido o lobista em 2007 ou 2008 “por conta de sua atuação na área de engenharia naval”. “Góes era representante de empresas que atuavam nessa área. Encontrou Góes em diversas ocasiões, desde o momento que o conheceu, tendo inclusive conhecido sua família e tendo estado em sua residência em São Conrado”, disse.
O engenheiro substituiu Pedro Barusco na Gerência Executiva da Diretoria de Serviços da Petrobras, um dos principais focos de corrupção na estatal. Barusco confessou ter recebido US$ 97 milhões em propinas. Ele disse que Gonçalves “estava entre os beneficiários” de propinas e que “para tanto utilizou conta secreta no exterior”. A Procuradoria alega ter descoberto que Gonçalves mantinha conta no Banco Pictet&CO em nome da offshore Mayana Trading. À PF, o executivo negou ter movimentado dinheiro neste banco.
Auditoria
Ao decretar a prisão temporária do ex-gerente da Petrobras, Moro citou relatório de Comissão de Apuração Interna da estatal, que imputou a Gonçalves “parte das irregularidades” encontradas nas licitações e contratos do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), como a contratação direta do Consórcio TUC (Odebrecht, UTC Engeharia e PPI – Projeto de Plantas Industriais Ltda.) para montagem das Unidades de Geração de Vapor e Energia. A comissão entendeu que não havia justificativa para a contratação direta sem licitação. Questionado pela PF, Gonçalves afirmou que não lhe cabia “decidir pela contratação direta ou não”.
A delegada insistiu e perguntou ao ex-gerente se ele solicitou autorização para que o contrato referente ao Consórcio TUC fosse feito de forma direta. Ele respondeu que era “praxe que tais solicitações partissem dos executivos da sua área e da Área de Abastecimento, e que de fato realizou o pedido de autorização por que o Consórcio TUC já vinha negociando com a Petrobras desde 2008, e entendia que a contratação direta seria a medida mais adequada dado o lapso de tempo já transcorrido”. (As informações são do jornal O Estado de S. Paulo)