Dia desses, ao folhear um matutino de grande circulação, uma matéria despertou a nossa atenção pelo fato de convivermos diuturnamente com os números assustadores da violência, não só aqui no Brasil, mas em todo o nosso planeta e, por mais que a justiça se esforce, os números não param de crescer. A matéria – mais que lúcida – foi publicada no caderno Opiniões e trazia a assinatura de Geraldo Euclides, mestre em filosofia e servidor do TRT6.
Dizia a mesma: “Provavelmente, jamais tenha havido um lugar onde qualquer integrante da sociedade se sentisse totalmente seguro entre seus pares, nem mesmo nos países ditos avançados e com alto índice de desenvolvimento humano, como na Dinamarca, Suécia, Noruega, Austrália, Suíça. A Dinamarca, por exemplo é o país da União Europeia onde há o maior número de violência de gênero. Segundo uma pesquisa pública pela agência de Direitos Fundamentais, 52% das dinamarquesas consideram ter sofrido algum tipo de violência física ou sexual. A média europeia é de 33%”.
A Noruega lembrou em julho passado os quatro anos do massacre na ilha de Utoya, que vitimou cerca de 90 jovens. A motivação do atirador teria sido político-ideológica, figurando – ao lado das frequentes e conhecidas motivações religiosas – como mais uma das possíveis razões de assassinatos e massacres de pessoas pelo mundo. Sem contar com as corriqueiras e estúpidas matanças de animais, como o tradicional massacre de baleias e golfinhos praticado no litoral dinamarquês, anualmente, com uma brutalidade descomunal que deixa os ambientalistas do mundo todo chocados e desolados.
Seja contra animais ou contra os próprios seres humanos, a verdade é que sempre fomos violentos. Mas os homens, igualmente, sempre lutaram contra tais bestialidades e teorizaram sobre aquilo que seria talvez a sua natureza: a violência.
Para Thomas Hobbes, por exemplo, matemático, teórico político e filósofo inglês do século 17, considerado um dos maiores teóricos do Estado moderno, ao lado de outros contratualistas como Locke e Rousseau, os homens criaram o chamado Estado Civil ou Estado de Direito para evitar, sobretudo, a morte violenta por parte de outros homens e garantir o direito á propriedade privada. Teorizou que, antes da existência de qualquer norma reguladora, os homens viviam no “estado de natureza”. Trata-se da situação “primitiva”, por assim dizer, em que cada indivíduo corria o risco de ser brutalmente assassinado a qualquer instante e por qualquer razão, tendo seus pertences expropriados, sem ter absolutamente a quem reclamar, pois não havia ainda Estado de Direito nem contrato social. Tudo era de todos e, ao mesmo tempo, ninguém era dono de nada.
Observando os números que a imprensa tem divulgado nos últimos dias, sobre a violência contra a nossa fauna, flora e, sobretudo, contra os seres humanos, parece realmente que ainda estamos no pleno estado de natureza pensado por Thomas Hobbes, afinal as pessoas são agredidas e assassinadas brutalmente a qualquer hora e em qualquer lugar, como se praticamente os agressores tivessem o direito de agredir, roubar, matar.
Marginais levam seus pertences, trucidam você e seus familiares e a sensação que fica é a de que não existe mesmo a quem recorrer. E vejam que estamos em pleno século vinte e um.
Danizete Siqueira de Lima
Agosto de 2015.