Duas trajetórias que marcaram a história de Pernambuco e do Brasil foram lembradas, hoje, pelo Senador Fernando Bezerra Coelho (PSB). Na sessão solene do Senado que homenageou o ex-governador Eduardo Campos, Fernando fez questão de lembrar também de Miguel Arraes de Alencar. Avô de Eduardo e eleito governador do Estado em três oportunidades (1962, 1986 e 1994), Arraes morreu no dia 13 de agosto de 2005, por problemas respiratórios.
Fernando Bezerra destacou a coragem de Arraes, que foi deposto do cargo durante o golpe militar e passou quase 20 anos exilado do Brasil. O senador, que disputou a eleição de 1998 como vice na chapa de Arraes, falou sobre os fortes compromissos do ex-governador com a população mais carente.
Sobre Eduardo, que morreu em acidente aéreo há exatamente um ano e de quem foi secretário de Desenvolvimento Econômico entre 2007 e 2010, Fernando Bezerra lembrou a capacidade administrativa. Durante as duas gestões do socialista, Pernambuco avançou na economia, infraestrutura, saúde, educação e segurança pública, reduzindo os indicadores de homicídios em quase 40%.
Para o Senador, o que tornava Eduardo diferente da maior parte dos políticos era a sua capacidade de dialogar, unindo correntes antagônicas em torno de objetivos comuns. “Ele fazia política com os olhos postados no futuro e não olhando pelo retrovisor. Eduardo faz uma imensa falta neste grave momento que o Brasil atravessa”, disse Fernando Bezerra. Confira, na íntegra, o texto do pronunciamento do Senador.
Senhor Presidente,
Senhoras Senadoras e Senhores Senadores,
Com grande emoção, subo a esta tribuna para homenagear a memória do amigo, cidadão e homem público, Eduardo Henrique Accioly Campos, que nos deixou prematuramente há um ano.
Conheci Eduardo nos Anos 80, quando estivemos juntos na memorável campanha de 1986, que reconduziu seu avô, Miguel Arraes, ao Palácio do Campo das Princesas, de onde foi deposto pelo golpe de 1964, no exercício do primeiro de seus três mandatos de governador de Pernambuco.
Já naquela época, Eduardo demonstrava um brilho próprio e uma grande paixão pela política.
Eduardo Campos teve seus primeiros contatos com a política ainda na infância, estudando a obra e a ação política do avô, que tinha personalidade humanista e nacionalista. Eduardo também era muito envolvido aos livros, à literatura e à cultura popular, tendo como grandes exemplos seu pai, o poeta Maximiano Campos; seu tio, Renato de Carneiro Campos; e seu vizinho, amigo e grande mentor, Ariano Suassuna, que o definia – abre aspas: “não como um novo Arraes, mas como um Arraes novo”.
Seguindo a trilha do avô, Eduardo atuou, inicialmente, como Oficial de Gabinete. Pouco tempo depois, como Chefe de Gabinete do Governador Miguel Arraes, familiarizando-se com a realidade política, econômica e social do nosso estado de Pernambuco. Foi um período em que Eduardo Campos conviveu com parlamentares, líderes empresariais e comunitários, sindicalistas, prefeitos, gestores públicos, autoridades dos poderes constituídos, formadores de opinião e gente do nosso dia a dia.
Deste aprendizado, resultou a conquista do primeiro mandato de deputado estadual, em 1990, já filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). A percepção da realidade nacional impulsionou Eduardo Campos para a conquista de um mandato no Congresso Nacional, em 1994, ao tempo em que Miguel Arraes era reconduzido para o terceiro mandato de governador de Pernambuco.
Na época, como prefeito da minha Petrolina, após eu ter exercido mandatos de deputado federal eleito em 1986 e 1990, votei e apoiei Eduardo Campos para a Câmara dos Deputados. Licenciado do mandato federal, ele assumiu a Secretaria de Fazenda do Estado de Pernambuco. Ao final dessa missão, Eduardo renovou o mandato de deputado federal com a maior votação do Estado naquelas eleições. Foram 173.657 votos, projetando-se no cenário nacional e sendo reeleito para o terceiro mandato à Câmara dos Deputados, em 2002.
Reconhecido como liderança nacional emergente, Eduardo Campos foi convocado pelo então presidente Lula, em 2004, para assumir o Ministério da Ciência e Tecnologia. Uma das mais importantes realizações de sua gestão na Esplanada foi a aprovação da Lei de Inovação Tecnológica, considerada um marco regulatório entre as instituições de pesquisa. Outra iniciativa também relevante foi a aprovação do Programa de Biossegurança, que autorizou a utilização de células-tronco embrionárias para fins de pesquisa científica.
Nesse período, Eduardo revelou ao país grande capacidade de articulação política, de trânsito fácil entre as diversas correntes políticas do Congresso Nacional, contribuindo para estancar os efeitos da crise política que já assolava o Brasil.
Em 2005, Eduardo Campos assumia a presidência do nosso Partido Socialista Brasileiro, na sucessão a Miguel Arraes. Foi reeleito e reconduzido ao cargo, por aclamação, até 2014.
Em 2006, mesmo constando das pesquisas iniciais com apenas 3% da preferência do eleitorado e estando em confronto com as estruturas partidárias do candidato Humberto Costa e do ex-governador Mendonça Filho, Eduardo candidatou-se ao Governo de Pernambuco.
Com uma campanha contagiante, mobilizou a militância, conquistando eleitores com boas propostas, e chegou ao segundo turno, quebrando a polarização política que caracterizava o estado. A vitória veio em resposta ao seu trabalho e sua luta, tornando-se governador dos pernambucanos a partir de 2007.
Foi reeleito governador, em 2010, com aprovação popular recorde: mais de 80% dos votos. Eduardo Campos consagrava-se líder político em Pernambuco, aumentando sua visibilidade nacional.
Governou o estado durante sete anos e três meses. Sob a liderança de Eduardo, Pernambuco cresceu acima da média nacional. Os investimentos públicos somaram, em média, mais de 2,4 bilhões de reais por ano. E a média nacional era quatro vezes menor: 600 milhões por ano.
O governo de Eduardo Campos também atraiu cerca de 78 bilhões em investimentos privados por meio de empresas que se instalaram em todo o estado, criando e adensando novos polos de desenvolvimento.
Na área da Segurança, o programa Pacto pela Vida reduziu o índice de homicídios em quase 40%. Tanto que a Organização das Nações Unidas concedeu prêmio ao Governo do Estado em reconhecimento ao êxito do programa.
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica evoluiu 14,8% no período entre 2007 e 2011. Como parte do programa Ganhe o Mundo, quase três mil alunos participaram de intercâmbio em países como Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Chile, Argentina e Espanha.
Recente pesquisa divulgada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas, o INEP, ligado ao Ministério da Educação, revelou que seis escolas públicas de Pernambuco estão relacionadas entre as dez melhores do Brasil no ranking de desempenho do Exame Nacional de Ensino Médio, o Enem. Estas também foram sementes plantadas no Governo Eduardo Campos, que deu grande prioridade à Educação. Como ele gostava de dizer: “deu vida às vidas de muita gente”.
Cumprindo promessa de campanha, Eduardo construiu três hospitais na Região Metropolitana do Recife – os Hospitais Pelópidas Silveira, Dom Helder Câmara e Miguel Arraes – e 14 unidades de Pronto Atendimento, as UPAs. Entre 2006 e 2013, a expectativa de vida em Pernambuco aumentou em 3,72 anos, superando a média da Região Nordeste. E a taxa de mortalidade infantil foi reduzida em 47,5%.
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Senadores,
Como governador, Eduardo Campos imprimiu uma marca de gestor moderno e inovador, trazendo práticas da iniciativa privada para a gestão pública, elencando prioridades, estabelecendo metas e cobrando resultados. Implementou um modelo de gestão reconhecido e premiado. Com trajetória ascendente, Eduardo estava preparado para exercer o cargo mais relevante da República.
Tinha sempre em mente que o dever do governante era fazer entregas à população, sobretudo a mais carente. Como ele gostava de dizer – aspas: “É preciso colocar a máquina do estado para moer aos que mais precisam”.
Assim era Eduardo. Um líder inspirador, revelador de talentos. Um governante próximo ao povo. Um político habilidoso e ousado. Um construtor de pontes. Amigo fiel e leal aos amigos. Pai e marido amoroso e presente; que, apesar da sua intensa rotina de trabalho, sempre encontrava tempo para estar próximo à família.
Eduardo era ousado; não temia desafios. Tinha coragem para lutar, para se superar e imensa capacidade de tirar projetos do papel.
Era capaz de unir a todos, como fez em 2014, agregando os pernambucanos, todos os ex-governadores e as mais expressivas lideranças políticas e sociais do estado. Colocou-se, mais uma vez, em uma disputa que muitos diziam ser impossível, buscando quebrar e polarização política brasileira. Ele comentava que o povo estava cansado da disputa do passado com o presente”.
Nas últimas caminhadas por Pernambuco, quando tivemos nossos derradeiros contatos, Eduardo Campos demonstrava esperança, entusiasmo e certeza. Ele dizia: “Fernando, quando eu sentar naquela bancada do Jornal Nacional, começa, de fato, a minha campanha para ser presidente do Brasil”.
Infelizmente, Eduardo, quando o Brasil te conheceu, o Brasil te perdeu.
Se vivo estivesse, ele seria uma voz indispensável para o atual momento de crises, dúvidas e incertezas que o nosso Brasil atravessa. Ele agregaria as lideranças, construiria pontes e trabalharia olhando para frente. Porque Eduardo não fazia política pelo retrovisor. Ele tinha os olhos postados no futuro.
Mas, a vida foi breve para Eduardo Campos em sua profícua trajetória política. Eduardo, estamos aqui hoje, reunidos para homenagear a sua vida e o seu legado! Nós, do Partido Socialista Brasileiro, temos a missão de manter a chama da esperança acesa, de não desistir do Brasil, de dar o melhor de cada um de nós, inspirados em você. Pretendemos, com a força de seu exemplo, Eduardo, construir o futuro desta nação. Um futuro onde o filho do rico e o filho do pobre possam estudar na mesma escola pública, que era o que você desejava!
Deixo aqui, com emoção, meu abraço fraterno e os mais profundos sentimentos para a família de Eduardo Campos e de Miguel Arraes, representados pela Dona Magdalena Arraes, Ana Arraes, Renata Campos e seus filhos Maria Eduarda, João, Pedro, José e Miguel e o irmão Antônio Campos.
Viva, sempre, Eduardo!
Muito obrigado!