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O CAMINHO DO DINHEIRO DA LAVA JATO NO EXTERIOR

marcelo-odebrecht-sendo-preso-pela-pfPoucas pessoas na Lava Jato têm o potencial de demolir a construtora Odebrecht, além de seus próprios executivos. Um deles é o economista suíço-brasileiro Bernardo Schiller Freiburghaus. Apontado como o operador responsável por fazer repasses de propinas e lavar dinheiro em paraísos fiscais, Freiburghaus tinha uma relação muito próxima com Rogério Araújo, ex-diretor da Odebrecht Engenharia Industrial. Araújo era subordinado direto de Marcelo Odebrecht, presidente da empreiteira. Na semana passada, revelou-se que, entre julho de 2010 e fevereiro de 2013, Araújo e Freiburghaus se falaram 135 vezes por telefone, segundo levantamento dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato. Em 15 dessas conversas, presume-se, o assunto predominante foram as transferências de recursos feitas por Freiburghaus para as contas de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da área de Abastecimento da Petrobras. São 22 transações bancárias que somaram US$ 5,6 milhões entre março de 2011 e novembro de 2012. Elas ocorriam em até oito dias após o contato telefônico. À medida que se delimita o elo entre Freiburghaus, Araújo e Paulo Roberto Costa, mais a maior construtora do país se complica. E mais e mais as investigações da força-tarefa se debruçam sobre Freiburghaus.

O doleiro chegou ao foco das investigações da Lava Jato a partir da delação de Paulo Roberto Costa. Em seu depoimento, de setembro de 2014, o ex-diretor da Petrobras disse que foi apresentado a Freiburghaus por Araújo. “Paulo, você é muito tolo. Você ajuda mais os outros do que a si mesmo. Em relação aos políticos que você ajuda, a hora que você precisar de algum deles, eles vão te virar as costas”, disse Araújo, segundo Paulo Roberto. Foi a senha para que o ex-diretor da Petrobras começasse a operar com o doleiro.

O esquema consistia em abrir contas bancárias de empresas em paraísos fiscais para, nessas contas, receber os recursos desviados da Petrobras. Segundo a delação de Paulo Roberto, Freiburghaus criou as offshores Sygnus Assets, Qinus Services e Sagor Holding, que tinham depósitos nos bancos PKB Privatebanck, HSBC, Julius Bear e Deutsche Bank. O objetivo da engenharia financeira era criar uma rede de companhias no exterior para a qual seriam transferidos os recursos pagos pela Odebrecht, entre 2009 e 2013, a título de “bom relacionamento”. Neste momento, a Lava Jato rastreia o caminho do dinheiro no exterior. Os procuradores avaliam já ter evidências suficientes para oferecer denúncia contra os executivos da empreiteira, inclusive Marcelo Odebrecht.

Os encontros entre Freiburghaus e Paulo Roberto ocorriam na Diagonal Investimentos, empresa do doleiro, no Rio de Janeiro. Ali, Freiburghaus apresentava os extratos das contas das offshores – e depois os triturava. O ex-gerente de engenharia da Petrobras Pedro Barusco, que admitiu ter recebido mais de R$ 100 milhões em pagamento de propinas, também era cliente de Freiburghaus. Usando o mesmo mecanismo que Paulo Roberto, Barusco recebia o dinheiro em contas bancárias de offshores. Duas delas, a Canyon View Assets e a Ibiko Consulting, tinham o doleiro como representante oficial. Segundo o juiz Sergio Moro, o fato de Freiburghaus ser o procurador dessas offshores indica o envolvimento do doleiro com a Odebrecht “no pagamento de propinas”.

“Quando Bernardo estava no Brasil, ficava numa sala isolada no escritório da Diagonal. Ele era discreto, não falava muito e tinha seus clientes, e eu os meus. Não tínhamos muito contato um com o outro”, disse a ÉPOCA o ex-sócio de Freiburghaus, que deixou a Diagonal em setembro de 2014 e pediu que seu nome ficasse em sigilo. “A Diagonal é uma empresa de agentes autônomos, que distribuía fundos no mercado e fazia corretagem. Não tem como ela receber dinheiro da Odebrecht. Só pode receber dinheiro de gestoras. Acredito que o Bernardo usava a estrutura da Diagonal para realizar negócios particulares para seus clientes, que nem sei quem são. Quando o nome dele apareceu na imprensa, fui pego de surpresa. Sou tão vítima como todo mundo”, afirmou a ÉPOCA.

Conforme ÉPOCA revelou em fevereiro deste ano, Freiburghaus entregou à Receita Federal no dia 29 de outubro de 2014 uma declaração de saída do país, documento obrigatório para todos aqueles que vão deixar de vez por todas o Brasil ou se ausentar por um período superior a 12 meses. Na ocasião, Freiburghaus não informou seu paradeiro e apenas declarou que possuía 50 mil francos-suíços (R$ 171 mil, em valores atuais) depositados no banco Julius Baer. Dali em diante, passou a viver recluso num apartamento avaliado em R$ 11,2 milhões em Genebra, na Suíça, às margens do Rio Ródano. Freiburghaus deixou a Diagonal sob a responsabilidade de seu contador, Marcos Heronides, com quem costumava despachar por Skype. Antes de irromper novamente nos telefonemas revelados na semana passada, Freiburghaus voltara à evidência no dia 19 junho, depois que Marcelo Odebrecht e outros executivos da construtora foram presos pela Polícia Federal. Na ocasião, o nome de Freiburghaus foi citado no despacho do juiz Sergio Moro, que o chamou de “Alberto Youssef da Odebrecht”. Procurada, a Odebrecht diz que desconhece os fatos e o teor dos supostos telefonemas apontados – e “questiona o vazamento seletivo de informações, vício que compromete o exercício do direito de defesa”. Sobre o despacho do juiz Sergio Moro, a construtora informa que se manifestará dentro do prazo legal. Já a advogada de Freiburghaus, Fernanda Telles, classificou como “ilação” as afirmações do MPF e disse que iria esclarecer o caso à Justiça.


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