Quando Alexander Murray Palmer Haley (Alex Haley), que faleceu em 1992 com 71 anos, escreveu em 1976 o livro “Negras Raízes” relatando a sagra de seu trisavô Kunta Kinte não tinha em mente o que esperava o povo africano no século XXI.
A captura na terra natal, os horrores vividos nos porões dos navios negreiros detalhados na obra de Alex Haley e imortalizados por Castro Alves no poema “O navio negreiro” trouxeram relatos sobre um passado que não deveríamos rever, contudo, as cenas atualmente observadas no Mar Mediterrâneo extrapolam as narrativas do escritor e do poeta.
É muito complicado entendermos o que leva os países da Europa a blindarem suas fronteiras para evitar o acesso dos africanos tendo estes mesmos países exportados seus “filhos” para outros países antes, durante e após as guerras mundiais. Não é possível negar a importância desses europeus no desenvolvimento das nações que as receberem, mas, aceitar as restrições agora impostas é no mínimo um contra censo.
Os defensores das políticas de (i)migração em vigor na Europa asseguram que entrada desenfreada dos africanos comprometeria a estabilidade econômica – financeira e as relações trabalhistas nas nações receptoras. Precisamos separar os marcos financeiros dos marcos humanitários, os primeiros em nenhuma hipótese podem suprimir os segundos.
Caso as sete nações mais ricas do mundo destinassem um percentual do que ganham com o setor armamentista para criar empreendimentos estruturantes nas miseráveis nações africanas reduziria a necessidade daquele povo ter que sair em busca de vida digna. As das nações em estado de miséria total do continente africano durante muitas décadas foram exploradas, na condição de colônias, por países do G-7 ou por aliados deles. Empresas com sedes nas nações centrais exploram os países da periferia descaradamente.
“Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!/Desce mais… inda mais… não pode olhar humano/Como o teu mergulhar no brigue voador!/Mas que vejo eu aí… Que quadro d’amarguras!/É canto funeral!… Que tétricas figuras!…/u cena infame e vil… Meu Deus! Meu Deus! Que horror.” Que este minúsculo trecho de “O navio negreiro” possa servir de alerta para os ricos que gastam fortunas com seus animais de estimação e cegam diante do horror vivido pelos irmãos da mãe África.
Por aqui também estamos tratando os irmãos do Haiti de maneira diferente que tratamos os italiano, alemães, turcos, libaneses e tantos outros nas primeiras décadas do século passado. Ser humano não pode ser tratado como produtos e serviços, com certificados de origem e selos de qualidade. Sejamos gente…
Por: Ademar Rafael