Em 2007, o então governador de Pernambuco, Eduardo Campos (in memoriam), criava o programa Pacto Pela Vida, um programa de controle de gestão que visava reduzir o número de homicídios em Pernambuco. Esse programa foi muito bem sucedido e teve um desempenho inesperado até o final de 2013, alcançando os objetivos a que se destinava. Em 2014, ele não teve o mesmo sucesso dos anos anteriores e as estatísticas passaram a mostrar um quadro preocupante tanto para o vice João Lira, que havia substituído Eduardo Campos, como para o
governador atual Paulo Câmara que foi forçado a dar uma arrumada em toda a sua estrutura.
Em maio passado, quando o programa completava 8 anos de vida, Paulo Câmara, em reunião com seus assessores, mostrou-se muito preocupado com os números e exigiu uma total reformulação para que o programa voltasse a cumprir o seu papel, garantindo, inclusive, a realização de concurso público ainda este ano, para suprimento das vagas existentes nas corporações civil e militar. Em seu pronunciamento foi enfático ao afirmar: “Maio é um mês decisivo onde a gente quer que haja uma curva efetiva na redução do número de homicídios”.
Passado pouco mais de um mês, a barbaridade chega à cidade de Escada e deixa a população revoltada com um crime que entrará para a sua história. O fato aconteceu na última quarta feira (17/06), quando o jovem Marcelo laureano Gomes Filho, de apenas 16 anos, foi morto por um tiro de fuzil disparado por um militar da CIOSAC – Companhia Independente de Operações e Sobrevivência na Área da Caatinga, durante uma abordagem policial. Apesar de ser menor de idade, o jovem dirigia a caminhonete do pai, com o irmão e mais dois rapazes. Ao ver a viatura da Polícia Militar, Marcelo se assustou, se negou a parar e tentou fugir. Na fuga, foi atingido por um disparo na cabeça e morreu na hora.
Luto para a família de Marcelo, revolta para a população não só de Escada, mas de todo o estado e a pergunta que não quer calar: por que a polícia age com tanta precisão na hora de tirar a vida de uma criança? Se o menor se negou a parar o veículo por que o tiro a ele destinado tinha que ser fatal? Não poderia o atirador – já que ele faz parte de um grupo especializado da PM – atirar em um dos pneus do veículo? Por que esses policiais não são tão eficientes na abordagem a bandidos? Toda semana um ônibus da Progresso é assaltado no
mesmo local e, quem sabe, até pelo mesmo grupo e nada é feito para coibir.
Observem que estamos falando de um policial da CIOSAC, como dissemos acima, e esses policiais são treinados para situações bem mais difíceis do que abordar e prender um veículo conduzido por uma criança que se assusta até com o simples apito de um guarda de trânsito.
Os depoimentos que vimos após a tragédia, transmitem um pouco da revolta e muita dor pela perda de Marcelo, como o do jovem Anderson Douglas da Silva, 17 anos, que estava com a vítima na hora da abordagem: “O PM poderia ter disparado em qualquer direção, menos na cabeça dele. Vimos que ele ia atirar e nos baixamos. Quando vi, nosso amigo estava morto”. Ana Lúcia dos santos, 46 anos, tia de Marcelo, comentou: “É uma dor que jamais passará. Perdemos um menino de ouro. Ele estava sempre sorridente, era companheiro, muito carinhoso com os pais e com todos na cidade”.
O pai do garoto, o comerciante Marcelo Laureano Gomes, de 52 anos, reconhece que errou ao permitir que o filho dirigisse seu carro. Mas disse que o filho era inocente e não merecia ser assassinado com um tiro na cabeça. Totalmente banhado em lágrimas e, talvez, com um sentimento de culpa pela sua negligência ao deixar o menor dirigir falou para um repórter: “Ele era um bebê de 16 anos. Eu perdi a minha vida”.
Sem mais palavras e diante de tamanho absurdo, resta-nos encerrar a crônica com mais uma pergunta: como fica o Pacto Pela Vida?
Danizete Siqueira de Lima
Junho de 2015.