
Uma cidade do sertão nordestino tinha em sua área territorial, além da sede, dois Distritos. Em cada um deles um Vereador. Conta o folclore político que quando o vereador do Distrito “A” pedia a palavra o Vereador do Distrito “B” disparava: “Sou contra”. Quando a manifestação era do Vereador do Distrito “B” o “Sou contra” se invertida, sem que um soubesse o que o outro iria propor.
É mais ou menos o que está ocorrendo no Brasil atualmente. Qualquer coisa que tenha origem numa ação de um petista, independente do que seja, recebe um: “Sou contra”. O lado petista repete a mesma frase para tudo que nasce em ambiente extra PT sem fazer o mesmo estrago. É estranho que o partido que bancou o projeto político que tirou o Brasil da mesmice tenha perdido a adesão popular e a credibilidade que o levou ao poder.
Motivos para isto sobram, contudo, também é surpreendente a forma como parte da imprensa trata um mesmo assunto quando realizado por um não petista e por um membro do Partido dos Trabalhadores. A revista Época assim tratou FHC em publicação de 24.04.2004: “O ex-professor, senador, ministro e presidente da República Fernando Henrique Cardoso agora é uma celebridade. Desde que deixou o Palácio do Planalto, no ano passado, FHC já faturou cerca de R$ 3 milhões dando palestras para empresários e intelectuais, no Brasil e no exterior.”.
O mesmo semanário escreveu sobre Lula em 30.04.2015: “Quando entregou a faixa presidencial a sua pupila, Dilma Rousseff, em janeiro de 2011, o petista Luiz Inácio Lula da Silva deixou o Palácio do Planalto, mas não o poder. Saiu de Brasília com um capital político imenso, incomparável na história recente do Brasil. Manteve-se influente no PT, no governo e junto aos líderes da América Latina e da África – líderes, muitos deles tiranetes, que conhecera e seduzira em seus oito anos como presidente, a fim de, sobretudo, mover a caneta de seus respectivos governos em favor das empresas brasileiras”.
Esta moda de ex-líderes saírem pelo mundo dando aulas de como fazer, inclusive de coisas que não fizeram, já foi e é exercida pelos americanos Henry Alfred Kissinger, Ronald Reagan e Bill Clinton; pela britânica Margaret Thatcher e pelo ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. Fiquem certos caros leitores que todos eles defenderam interesses de quem os contrata. Os temas das palestras são previamente negociados e os recados seguem um roteiro anteriormente ajustado. Quando a “Coca-Cola” paga não se fala em “Pepsi”, quando a “Ford” contrata não é citada a “Fiat”, assim é o jogo.
Seremos sempre tendenciosos quando julgamos como verídico somente algo oriundo de um grupo seja político, religioso ou empresarial. Rótulos quase sempre nos leva a miopia e julgamento prévio pode encerrar numa injustiça. Satanizar um grupo e santificar outro é um caminho tortuoso.
Por: Ademar Rafael
