
Todo político “cara lisa” tem um pronunciamento padrão diante dos movimentos de rua. Quando estão participando como oposicionistas afirmam que o fazem em nome da democracia e em favor de causas nobres, ao serem alvos dos movimentos, durante o exercício de cargos eletivos, dizem que se trata de prorrogação de eleições, atitudes golpistas e outras qualificações depreciativas.
Os eventos de 2013, 2014 e deste ano, com destaque para os realizados em 15.03.2015 e 12.04.2015 têm atores comuns, motivos diversos e recados últiplos. Assusta que um governo cujo partido foi criado entre movimentos populares tenha esquecido a receita que pregava por todo país na época que estavam fora do poder central.
Para decifrar tais movimentos a professora Esther Solano e os jornalistas Bruno Paes Manso e Willian Novaes, entraram nas manifestações e publicaram o livro “Mascarados – A verdadeira história dos adeptos da tática Black Bloc”. Referida publicação deveria ser lida e relida pelos governantes e através do “Método Kumon” aplicada aos agentes da segurança pública e privada.
O conteúdo do livro nos livra dos falsos mitos que o movimento é feito pela elite, por rebeldes sem causa e por favelados remunerados por golpistas. Os autores revelam os verdadeiros motivos que levam tantas pessoas para as ruas e dão luz sobre os reais destinatários das mensagens além de decodificar as razões para os excessos.Após a leitura você pode até discordar dos efeitos das manifestações, especialmente quando à destruição de bens públicos e privados, no entanto, jamais ignorará as razões dos manifestantes. É infinita a lista de motivos, sua grande maioria provocada pela omissão do poder público e da iniciativa privada.
O acesso às informações e o ambiente que cerca os descontentes servem de insumos para proliferação das revoltas e o extravasamento nas vias públicas, algumas vezes com atos de selvageria. A violência aplicada pelos manifestantes é compatível com o grau de insatisfação com o que estão recebendo em bens e serviços públicos e privados.
A visão equivocada de que o movimento tem com destinatário apenas o setor público desaparece com a leitura de “Mascarados”. Vários depoimentos constantes na obra provam que existem vilões em outras camadas sociais. Detentores de cargos na União, Estado e Municípios são os alvos principais, contudo, outros alvos existem. A imprensa e as grandes organizações privadas da indústria e do comércio também são foco. Isto fica cristalino no texto.
Desqualificar os movimentos é um caminho que nossas autoridades tem escolhido para tentar reduzir o sua importância. Isto, contudo, não leva ao atendimento das reivindicações. Desçam do pedestal, calcem as sandálias da humildade e debatam com os manifestantes, ainda há tempo. Caso empurrem com a barriga os desdobramentos podem sair do controle.
Por: Ademar Rafael
