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ARQUITETO MINEIRO CRIA BICICLETA QUE PEDALA ATÉ NA ÁGUA

BIHomem das montanhas, sempre de pés firmes sobre a terra, mas que não consegue viver longe da água – pode ser do mar, dos rios ou lagos. Apaixonado pela natureza e preocupado com os problemas urbanos, especialmente a mobilidade, o arquiteto mineiro Argus Caruso Saturnino encontrou uma forma inusitada de viajar, praticar esportes, ajudar a desatar os nós no trânsito e, por que não, se divertir? Depois de três anos debruçado sobre a prancheta e mais quatro meses de execução do projeto, ele criou um meio de transporte inédito no mundo: pedala, no solo, como qualquer bicicleta, mas também pode navegar com vela e flutuadores. Nascido em Belo Horizonte e radicado no Rio de Janeiro há uma década, Argus fez o primeiro teste com a “InVenta” na manhã de ontem, no Iate Clube Lagoa dos Ingleses, em Nova Lima, na Grande BH. “O mais importante foi flutuar, agora vou fazer alguns ajustes”, comentou o arquiteto com satisfação.

Eram 10h30, quando Argus chegou à sede do clube, às margens da rodovia BR-040, e começou a retirar as peças da van recém-adquirida. Antes de tudo, fez questão de explicar: “Há muitos anos não tenho carro. Em qualquer cidade, só me desloco de bicicleta. Só comprei esse aqui para transportar a InVenta, nome que mistura invento e vento. Precisamos chamar a atenção, do jeito que for, para o trânsito pesado nas cidades”. Em pouco mais de 20 minutos, ele montou a estrutura, composta do quadro de alumínio, flutuadores de compensado naval, resina de epóxi e vela de lona branca, e passou a se ocupar da hélice, localizada perto do pneu traseiro e que gira com a força das pedaladas. Concentrado na tarefa – “é a primeira vez que uso hélice na bike” –, lembrou que não fez um barco que virou bicicleta, nem o contrário. “É um veículo único, híbrido, o qual, futuramente, poderá ser mais leve, de fibra de carbono”.

A ideia de construir o veículo anfíbio, próprio para terra e água, começou em 2010, durante uma viagem pelos litorais norte e nordeste do país. “Fui de Pernambuco ao Amapá pedalando pela areia das praias, num total de 2 mil quilômetros. Nessa época, a bicicleta já estava com a vela e andou muito rápido. O tempo todo do trajeto, ficava pensando: seria ótimo se minha bicicleta flutuasse”, conta Argus, que, antes de fazer o teste na Lagoa dos Ingleses, passou alguns dias na fazenda da família em Cordisburgo, na Região Central, mostrando a novidade aos parentes e cuidando de cada detalhe do veículo totalmente artesanal.

Mãos à obra

Logo depois da viagem ao Norte e Nordeste, Argus deu asas à imaginação e começou a fazer os croquis. “Pesquisei na internet e vi que havia outros conceitos com bicicletas híbridas, a exemplo de barcos movidos a pedaladas. Mas nada semelhante ao meu projeto”, contou ele, a poucos minutos de testar a InVenta na água. Sem vaidade, revelou que não se incomoda se copiarem seu invento. “Se isso ocorrer, é porque deu certo, pois ninguém vai atrás do que dá errado. Para mim é motivo de orgulho, pois só de ser a pioneira valeu a brincadeira”, abriu o sorriso.

O vento soprava gelado, as nuvens estavam carregadas e, muito raramente, os raios de sol davam o ar da graça sobre a Lagoa dos Ingleses. Argus desceu, pedalando, a rampa em direção ao pequeno deque e ganhou as águas. Em nenhum momento o veículo tombou e o arquiteto só não ficou satisfeito com o desempenho da hélice. Foi obrigado, portanto, a pedalar e remar. Quem estava praticando esporte ficou impressionado com a cena. “Ele conseguiu o mais difícil, que é boiar. Achei muito legal”, comentou o administrador de empresas Daniel Ribeiro, de 25 anos.

Com dois metros de comprimento e pesando 30 quilos, a InVenta vai precisar de muita atenção até ficar 100% do jeito que Argus quer. “O teste foi bom, mas precisa andar mais rápido. Tenho que aprimorar a hélice e os flutuadores, além de aumentar a linha-d’água, que se traduz, grosso modo, pelo espaço entre os flutuadores e a superfície da água”. O arquiteto conta que, antes de usar compensado naval, madeira própria para embarcações, se valeu de chapas de isopor. “A cada vez, a flutuabilidade fica melhor. Acho que cumpri minha missão, pois, é fundamental entrar na água e ter estabilidade”. (Estado de Minas)


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