Home » Sem categoria » CEM ANOS DE UMA UNANIMIDADE

CEM ANOS DE UMA UNANIMIDADE

0497bf89dcb9a47ddbde4a8fb4261805Um gestor com projetos de longo prazo, um político com só um lado. Uma parte engenheiro inovador, outra parte socialista comprometido com o povo das periferias. De uma lado abre as Avenidas Norte, Sul e Dantas Barreto, expande a da Conde da Boa Vista e cria Código de Urbanismo e sistema de ônibus elétrico; de outro, institui as audiências públicas para escutar a população e estimula o surgimento das associações de bairros. Um político perseguido pela pecha de comunista e pela vigilância eterna da polícia política, um agnóstico que vivia cercado por imagens de santos da esposa muito católica. Hoje, 15 de abril, Pernambuco – além do Recife – celebra o centenário de nascimento de uma unanimidade: Pelópidas da Silveira, o ex-prefeito – nomeado em 1946, eleito em 1955 e 1962 – que originou a Frente Popular e inspirou as gestões de Miguel Arraes, Jarbas Vasconcelos e do PT.

Nascido em 1915, formado pela Escola de Engenharia de Pernambuco, a vida político-partidária de Pelópidas da Silveira surge após a redemocratização de 1945, com o fim do Estado Novo de Getúlio Vargas. O País caminha para as eleições, em 1946, e o interventor no Estado, José Domingues da Silva, nomeia Pelópidas da Silveira prefeito do Recife, cargo que ocupa por sete meses. Com apoio do clandestino PCB, sai candidato ao governo pela Esquerda Democrática, embrião do Partido Socialista Brasileiro (PSB), mas é derrotado por Barbosa Lima Sobrinho (PSD).

Nos anos 50, integra-se à campanha nacionalista O Petróleo é Nosso, e a militância o leva, em 1955, na primeira eleição livre para prefeito do Recife, a ser candidato pela denominada Frente do Recife (PSB, PTB e PTN, com o apoio do PCB). Eleito com dois terços dos votos, investe em obras viárias, funda a Companhia de Transportes Urbanos (CTU) para gerir os ônibus eletricos, higieniza as feiras e com audiências públicas aproxima o governo e comunidades. Ainda prefeito, em 1958 sai vice da chapa de Cid Sampaio (1959-1962), que é eleito governador. Antes de deixar o cargo, elege Miguel Arraes seu sucessor, em 1959.

Em 1963, pela coalizão PSB-PTB é novamente eleito prefeito. Com o Golpe de 64, é preso em 2 de abril pelos militares. O chefe do Estado Maior do IV Exército, no Nordeste, general Isaac Nahon, lhe pede a renúncia, mas, assim como Miguel Arraes – no governo do Estado –, Pelópidas responde negativamente. Adesista, a Câmara de Vereadores, por 20 votos a um – por votar contra, Jarbas de Holanda é preso – declara o seu impeachment.

O engenheiro civil e urbanista que deu o perfil de modernidade à cidade, junto a um novo paradigma de prioridade social – a base popular antes excluída das gestões, que lhe daria respaldo ante uma Câmara hostil – morreu aos 93 anos, em 6 de setembro de 2008. Com o legado humanista de visão de mundo, forjado pela leitura vasta e formação ideológica, Pelópidas cativava por dois gestos: humildade e paciência.

“Uma pessoa singular. Um socialista. Eu, Marcos Freire, Fernando Coelho, Fernando Lyra, Roberto Freire, Marcus Cunha – do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que enfrentou a ditadura de 64 –, as gerações seguintes, recebia a todos. Era um farol, uma referência. Sempre tive uma ligação forte com o Recife e escutava episódios de Pelópidas que a população de baixa renda contava”, recorda o ex-prefeito e deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB).

Um político que acreditava que a dicotomia “esquerda e direita” jamais desaparecerá no mundo, mas que também não deveria ser motivo de inimizade. “Ele tinha um encanto que fazia a afirmação do dramaturgo Nelson Rodrigues, ‘toda unanimidade é burra’, cair por terra. Não fazia referência negativa a ninguém. Dizia que aos adversários daria uma gravata, jamais o voto. A esquerda tinha Pelópidas como um oráculo”, testemunha o ex-deputado estadual e genro, José Áureo Bradley.

Por: Ayrton Maciel-JC


Inscrever-se
Notificar de

0 Comentários
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários