Executivo e Legislativo – cada qual com suas conveniências.
E quem fica conosco?
Sou um leitor assíduo do Jornal do Commercio, mas, vez por outra, dou uma olhada no Diário e/ou na Folha do estado. No dia 26/02, ao passar por uma banca de revistas vi estampado na primeira folha do Diário de Pernambuco, a manchete: elas viajam e nós pagamos a conta.
Isso mesmo. Fiquei curioso, comprei o matutino para folheá-lo em casa, e tive uma grande surpresa. Se não, vejamos: Enquanto aguardamos o arrocho fiscal anunciado pelo Planalto e convivemos com a alta da inflação, aumento de impostos e de combustíveis, escassez de água em alguns estados e risco de apagão elétrico, o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou um pacote de bondades para os parlamentares, com validade a partir de 1º de abril que custará aos cofres públicos, a bagatela de R$ 112,7 milhões só em 2015, o que representa R$ 219,79 mil para cada um dos 513 deputados, ali incluído a liberação de passagens aéreas para cônjuges de deputados, proibido desde 2009.
Foi muito feliz a jornalista Bruna Siqueira do Diário Econômico, quando se referia ao filósofo Jean-Paul Sartre que disse certa vez : “o pior mal é aquele ao qual nos acostumamos”. Essa é a grande verdade. Enquanto assistimos a dilapidação do patrimônio da maior estatal brasileira, temos que ouvir a presidente da República declarar que a perda do grau de investimento da Petrobras pela agência de classificação de risco Moody’s é falta de conhecimento do que está acontecendo. Será mesmo?
A corrupção tornou-se corriqueira de tal forma que baixamos a cabeça diante dos ladrões que nos assaltam; os piores políticos são os que mais se perpetuam no poder e os cargos que ocupam são quase vitalícios. Nitidamente, tudo parece normal num país onde um juiz desfila com o Porsche do réu, numa tranqüilidade impressionante. E aí fazemos jus à pecha de que somos uma República de Bananas onde mulher de deputado tem direito a passagem aérea paga pela sociedade, enquanto o escândalo da operação Lava-Jato aponta um rombo bilionário impossível de ser mensurado.
Que arrocho fiscal é esse perguntamos aos parlamentares? Vocês viram os cminhoneiros travarem o País depois que a Cide foi ressuscitada elevando o custo do óleo diesel? Vocês estão sabendo que o governo deixou de pagar o Pronatec, impedindo os nossos jovens de fazerem um curso técnico? (aquele curso que a presidente tanto enalteceu em sua campanha). Vocês estão sabendo que os recursos do PAC encolheram? Por quê vocês, antes de tomarem tais medidas, não consultaram os trabalhadores da indústria naval em Pernambuco que perderam os seus empregos? É muita canalhice.
Na semana seguinte à aprovação do pacote de bondades, por conta da pressão popular, o presidente da Câmara deu uma recuada no benefício das passagens aéreas, mas não se enganem que após a turbulência eles voltarão ao assunto com mais furor. É por essas e outras que só temos dois caminhos a seguir: reagir ou concordar com o filósofo quando afirmou categoricamente que o pior dos males é aquele com o qual nos acostumamos.
Por: Danizete Siqueira de Lima