Gonzagão, um cara diferente (e a madame baião)
Aquele agosto de 1989, que marcou a nossa despedida de Gonzagão, me deixou muito triste, mas ocorreu um fato importante que não consigo esquecer.
Foi meu encontro com Helena Cavalcanti, àquela altura viúva de Gonzagão, e o filho Gonzaguinha, que chegou um pouco atrasado ao velório.
Quando cheguei ao velório, na Assembleia Legislativa – no meio de tanta gente simples -, depois de chorar muito, uma coisa me deixou mais desolado ainda: não encontrei Helena naquela área do plenário, onde se encontrava o caixão do filho de Januário.
Fiquei impaciente e não conseguia esconder meu desapontamento, pois Helena tinha a obrigação de se fazer presente à despedida do Rei que um dia a conquistou em um programa de auditório, no Rio de Janeiro, sem saber que ali estavam formando um casal de pernambucanos, o Rei e a Madame Baião.
Depois de muito procurar, encontrei Helena na sala da Presidência da Alepe, sozinha em uma mesa, sem ser notada por nenhum companheiro de imprensa. Aliás, ela só foi reconhecida quando os restos mortais do rei chegaram ao Crato (CE).
Me aproximei e passamos a tomar café, fumar e conversar algumas coisas, lembrando nossos encontros em Exu, naquele casarão do Parque Aza Branca, aonde me hospedei muitas vezes, nos tempos bons e ruins da vida de Exu.
Nessas viagens me tornei uma espécie de “pessoa de confiança” de Helena, a quem ela nunca pediu reserva, mesmo sabendo que tinha aproximação com um repórter.
Com Gonzaga, a nossa conversa era mais sobre a Missa do Vaqueiro e a política. Aonde a gente se encontrava havia sempre um tempinho para um “dedo de prosa”, até em pé, no meio da rua como em uma ocasião na Ponte Duarte Coelho, no Recife, “no pingo do meio dia”. Ele colocou a sanfona em cima da varanda da ponte e a gente se danou a conversar.
Eu ia para o Diário de Pernambuco e ele para o Hotel São Domingos, que ficava na Praça Maciel Pinheiro.
Helena nunca se queixou de que Gonzagão era mulherengo e tinha outra companheira (Edelzuita Rabelo). Não dizia, claro, mas em dados momentos de tristeza sua cara era de quem estava sendo traída. Aqueles olhos grandes e marejados queriam dizer alguma coisa.
Reclamava como o diabo da desorganização do marido. Falava que ele não preparava a programação dos contratos e, muitas vezes, os contratantes lhe “passavam a perna”.
Helena era, a um ao mesmo tempo, secretária, empresária e tesoureira. E mulher do rei! Mas, voltando ao nosso encontro no velório do Rei do Baião, tivemos um momento muito confuso. Gonzaguinha acabara de chegar e subiu para o lugar onde Helena e eu nos encontrávamos.
O problema é que, ao chegar ao velório, Gonzaguinha foi surpreendido com um “exército” de repórteres que queriam a todo custo conversar com ele. Eu tomei a frente e pedi aos companheiros que tivessem calma, pois naquele momento Gonzaguinha estava se encontrando com Helena e ambos estavam muito abalados com a perda daquele que era o Rei do Baiao, mas que, para eles (mulher e filho), Gonzagão representava tudo na vida.
Eu fui atendido, deixei os dois conversando e me retirei. Voltei a me encontrar com Helena no Parque Aza Branca. Conversamos pouco e achei que ela estava muito chateada com a atitude da Rozinha – que não acompanhou o pai na doença e não compareceu ao seu sepultamento, mas queria vender tudo que ele possuía (como vendeu por telefone sem ir a Exu), pouco depois da morte de Gonzaguinha, em um acidente de carro.
Nunca mais eu vi Helena e fui surpreendido quando soube de sua morte, repentina. De onde eu estava, não me recordo onde, enviei informações para a imprensa no Recife.
PS. Depois eu falarei sobre a vontade política de Gonzagão direcionada para Exu. Só que ele queria, primeiro, que Helena entrasse na parada.
Por Machado Freire