O RIO ESTÁ VIVO AINDA:
Nosso Pajeú querido,
Rio dos mais respeitados,
Que quando cheio espelhava,
O rosto de Afogados,
Quem foste tu, quem tu és?
Foste um dos fortes pajés,
Impondo enorme respeito,
És hoje um índio cansado,
Tendo um sentimento ilhado,
Na solidão do teu leito.
Não conto as vezes que ouvi,
Tua garganta bradando,
E a tua água barrenta,
Descer nos desafiando,
Espumas amareladas,
Brutalmente carregadas,
Pela braveza da enchente,
E os remansos como poltros,
Dando empurrões uns nos outros,
Querendo chegar na frente.
Quantas barreiras quebrastes,
Ao longo dos anos teus,
Quando acolhias as águas,
Vindas das latas de Deus,
Quanta vazante dormia,
Sob o líquido que descia,
Pulsando na tua veia,
Em busca do oceano,
E a gente passava um ano,
Prá ver de novo a areia.
Lembro Pajeú querido,
O teu passado exemplar,
Quando um poeta cantou,
Teu trajeto rumo ao mar,
Inspiraste cantadores,
E aos olhos dos pescadores,
Assombração e ciúme,
A tua enchente causava,
E o Chico se encarregava,
De transportar teu volume.
Quantas crianças nadavam,
Nas margens das águas tuas,
Quantas vezes revoltado,
Invadiste algumas ruas,
Logo depois que invadias,
Arrependido tu ias,
Recuando de mansinho,
Assumindo as próprias culpas,
Como quem pede desculpas,
Por Ter errado o caminho.
E hoje velho cacique,
Estás muito diferente,
Como um guerreio ferido,
Pela tua própria gente,
Por onde a água correu,
A baronesa cresceu,
A fedentina aumentou,
Com isto a poluição,
Por Ter te pego a traição,
Veio prá luta e ganhou.
Hoje acumulam lixos,
Como mato, arame e fio,
Estão vomitando esgotos,
Na boca do pobre rio,
Que se encontra transformado,
Tanto entulho acumulado,
Por onde o líquido correu,
Vamos salvar nosso irmão,
Que está de vela na mão,
Mas ainda não morreu.
Já é hora de fazermos,
Uma limpeza em geral,
Prá devolvermos ao rio,
A beleza natural,
Conserva-lo por inteiro,
Torna-lo o velho guerreiro,
Que atualmente não é,
Cartão postal de Afogados,
E nós, orgulhosos curvados,
Aos pés do nosso pajé.
Por: Diomedes Mariano – Fotos: Júnior Finfa
PARABÉNS … BELA MATÉRIA.