A quem interessa o caos.
Na penúltima semana de março os telejornais das grande redes de televisão abertas apresentaram o caos nas rodovias localizadas nos entornos dos principais portos do Brasil. As matérias foram centralizadas nos portos de Santos, São Paulo e Paranaguá, Paraná e vincularam a situação ao escoamento da super safra de soja.
Para melhor entendermos o tamanho do problema é necessário fazermos um cálculo. Com uma produção estimada em 80 bilhões de toneladas se exportarmos somente 40% (32 bilhões de toneladas) necessitaríamos de 1 milhão, isto mesmo 1 milhão de caminhões, cada um com 32 toneladas.
Não há infra-estrutura que consiga conviver com uma situação destas sem estrangulamento e criá-la seria pouco inteligente, na maior parte do ano ficaria obsoleta uma vez que o escoamento da soja é sazonal. Se buscarmos as causas encontraremos três grandes motivos.
Motivo um: A opção pelo transporte rodoviário que os governos desde JK impuseram ao Brasil, movidos por interesses da indústria de veículos pesados. A construção de grandes estruturas de armazenagem nas áreas portuárias e a utilização de ferrovias e hidrovias seriam boas alternativas.
Motivo dois: A ausência de uma correta política de armazenagem de produtos agrícolas, nas áreas produtivas, gera uma situação perversa para os produtores. Como não existem armazéns suficientes os produtos são vendidos antes da colheita e as grandes empresas multinacionais deitam e rolam sem correr os riscos inerentes à atividade, ou seja, o agricultor corre o risco e é obrigado a vender seus produtos “na folha” por preços abaixo do que conseguiria se pudesse armazenar.
Motivo três: Falta de uma política de crédito rural e de controle da produção, como fazem os países desenvolvidos. Lá a produção é induzida através de uma política onde a preservação do produtor “nativo” está acima de qualquer outra variável interna ou externa. Em tais países os produtores muitas vezes ganham para não produzir, por estas bandas produzem para tentar sobreviver. A solução para este motivo é mais complexa, envolve recursos que não existem e a questão cultural, somos bons em produção e deixamos a desejar em estratégias.
Fazer alardes sobre as deficiências da infra-estrutura do Brasil, sem detalhar os motivos, é prestar informações incompletas. Muitas vezes isto ocorre sob orientação de organizações com alto interesse na área e na perenidade da dependência dos produtores. Ser atravessador, inclusive no mercado externo, é um grande negócio.
Por: Ademar Rafael