Foram seis anos e vinte recusas, mas finalmente a blogueira cubana Yoani Sanchéz conseguiu realizar o sonho de voltar a viajar para fora de seu país. Era quase 1h desta segunda-feira (18) quando Yoani desembarcou no Aeroporto Internacional dos Guararapes, no Recife, sendo recepcionada pelo amigo, o cineasta baiano Dado Galvão.
Além do carinho dos amigos, Yoani foi recebida com uma manifestação contra a chegada dela ao país, sendo acusada de “trair o movimento”, receber dinheiro americano para ser revolucionária, além de ter uma conta milionária. Nada que tenha a afetado. “Viva a democracia, quero também essa democracia no meu país”, responde com tranquilidade a cubana.
A blogueira, que é uma das principais vozes de oposição ao regime atualmente comandado por Raúl Castro, conseguiu viajar depois que o governo cubano extinguiu a exigência de permissão para a saída da população do país. A mudança entrou em vigor em 14 de janeiro e ela recebeu seu novo passaporte para viajar no dia 30 de janeiro.
“Estou muito feliz, foram cinco anos de luta, de tentar por todos os caminhos. Tenho essa sensação agridoce, estou feliz por mim, mas também tenho amigos que não conseguiram o passaporte. A reforma migratória trouxe alguma flexibilidade, simplificou muitas coisas, mas tenho amigos que tiveram negado o passaporte”, conta.
Apesar das negativas, Yoani lembra que não desistiu. “Espero agora que outros amigos meus possam conseguir também o passaporte. Quando recebi meu passaporte senti alegria, mas senti também cansaço pela longa luta que foi para chegar até aqui”, relembra.
Quando pegou o passaporte, passou a ser uma corrida contra o tempo. “Foram duas semanas que dormi muito pouco, mas com muita energia. Tinha muitas coisas para preparar, o roteiro da viagem para elaborar”, detalha Yoani. A primeira parada tinha de ser o Brasil, ressalta a blogueira. “Os brasileiros foram os que mais insistiram, apelaram de todas as maneiras. Além disso, muitas pessoas acompanham meu blog e a conta no Twitter, por todas essas coisas, sentia que o primeiro abraço tinha de ser nos brasileiros. Foi o país que mais se esforçou para me tirar de meu exílio insular”, afirma.
Apesar das mudanças no governo, como a reforma migratória, Yoani conta que a liberdade de expressão não encontrou ainda espaço. “Lamentavelmente, em Cuba, é penalizado pensar diferente. Opinar contra o governo traz consequências nefastas, prisão arbitrária, vigilância. Inclusive, fico um pouco preocupada, deixo amigos e família. Sempre fico preocupada, mas espero não receber más notícias. Porém, vemos alguns avanços nos direitos”, aponta a blogueira.
Perguntada sobre a possibilidade de ser barrada na volta a Cuba, Yoani foi taxativa. “É melhor que não tentem. É possível, mas não creio, por que seria uma violação legal das leis internacionais”, diz. “Quero ficar em Cuba, ajudar os cubanos. Não quero ser uma Yoani Sanchéz migrante em outro país”, aponta.
Sobre as transformações em Cuba, Yoani explica que acredita que algumas mudanças vão avançar em Cuba. “Existe uma diferença entre a reforma sonhada e a reforma possível. A reforma possível, que é a que o governo de Raul Castro parece estar seguindo, é a de que possamos comprar um carro novo em vez de um usado, comprar alguns produtos que não eram possíveis. Porém, a reforma sonhada, que é a da liberdade de associação, de expressão, não parece que vamos conseguir tão cedo”, acredita a blogueira.
O cineasta Dado Galvão estava ansioso para poder comemorar a vinda junto com Yoani. “Prometi a ela, quando estive em Cuba em dezembro de 2009, que a ajudaria. Vamos celebrar com o direito de ir e vir com cinema, solidariedade e perseverança. Já tinhamos feito o convite quatro vezes para lançar o filme e, a cada negativa, cancelávamos a estreia, pois víamos como uma forma de pressionar para trazê-la”, explica o cineasta.(Foto: Katherine Coutinho/G1)