“O Brasil, que venceu a primeira fase da crise financeira porque reduziu a desigualdade social, só vai mudar seu padrão de desenvolvimento se acabar com as desigualdades inter-regionais”. Foi o que disse o governador Eduardo Campos na abertura do seminário “Nordeste: como enfrentar as dores do crescimento”, do projeto Diálogos Capitais, promovido nesta segunda-feira (25/2), pela revista Carta Capital, no Mar Hotel, em Boa Viagem.
Anfitrião do encontro, Eduardo falou durante 40 minutos. Defendeu a construção de um novo Pacto Federativo que ajude a vencer as desigualdades regionais e incrementar o crescimento brasileiro da próxima década. Ele afirmou que o Nordeste foi o motor do crescimento brasileiro nos anos de 2008, 2009 e 2010 graças a iniciativas do governo do presidente Lula, de melhoria de renda da população mais pobre, majoritariamente nordestina. Mas lembrou que, apesar disso, a participação da região no PIB brasileiro praticamente não sofreu alteração, tendo pequeno avanço “à direita da vírgula”.
O governador também defendeu uma mudança no padrão de transferência de receitas tributárias entre os entes federados, através de políticas que levem em conta a necessidade de corrigir as desigualdades. “Precisamos implementar uma política de desenvolvimento regional que faça com que indústrias como a automotiva ou a do petróleo, gás e offshore se distribuam pelo País de forma equilibrada”, acrescentou.
“O Brasil precisa de politicas de desenvolvimento direcionadas a corrigir as desigualdades, fazendo com que o país cresça com as regiões menos desenvolvidas crescendo mais rapidamente ainda”, disse, lembrando que seriam necessários 46 anos, com um crescimento acima de 1%, para igualar a renda média dos nordestinos aos eixos mais desenvolvidos do País. Na hipótese de um crescimento de 2%, essa equiparação levaria 23 anos, enquanto que com 3%, seriam necessários 13 anos.
“Neste momento em que precisamos viver um ano de 2013 melhor que 2012, não podemos apequenar a discussão política do País. E só conseguiremos crescer mais este ano se discutirmos não o País da próxima eleição, e sim o da próxima década”, afirmou.
Eduardo disse ainda que atualmente apenas 36% dos recursos tributários são compartilhados entre os entes federados, enquanto na década de 1980 o montante chegou a 80% do total. “Então, temos que deixar debates secundários no seu lugar e cuidar do que interessa ao povo, que pode ser o caminho estratégico para romper tantos desiquilíbrios e botar o país a crescer, desenvolver, distribuir renda e gerar felicidade na vida de muitos brasileiros”, cravou Eduardo, sendo bastante aplaudindo pelo público, formado por grandes empresários.
O governador reconheceu o esforço da presidenta Dilma Rousseff em discutir um sistema de desenvolvimento regional que seja permanente no aparelho de Estado. “Por iniciativa do Governo Federal, o Brasil vem discutindo desde o ano passado esse sistema. Vai ter uma conferência em Brasília no final deste semestre, convocada pelo Governo Federal, para discutir esse sistema, o que eu acho uma bela iniciativa. E precisamos aproveitá-la para criarmos uma política que não dependa de Governo A ou B”, reforçou.
Os passos dados em Pernambuco rumo ao equilíbrio nacional também foram apresentados por Eduardo na ocasião. O governador citou a mudança no regime de ICMS do Estado, com o estabelecimento de regras que foram ao encontro de municípios com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). “Aumentamos em 147% o repasse para os municípios do Sertão e do Agreste e 90% para os da Zona da Mata”, informou, destacando que o feito só foi possível devido ao modelo de gestão, que estabelece metas e resultados e possibilita a redução do gasto ruim e a consequente potencialização dos investimentos.
Além de Eduardo, a mesa de debates trouxe grandes nomes do empresariado, como Cledorvino Belini, presidente da Fiat; João Luiz Perez, sócio conselheiro do Grupo Provider; José Carlos Cosenza, diretor de abastecimento da Petrobrás; Marcus Temke, diretor de operações da MPX; Enrique de Las Morenas, diretor-geral da Enel Green Power. O governador da Bahia, Jaques Wagner, foi escalado para encerrar o evento.
Ainda estiveram presentes o vice-governador, João Lyra Neto, e os secretários estaduais Tadeu Alencar (Casa Civil), Frederico Amâncio (Planejamento e Gestão), Márcio Stefanni (Desenvolvimento Econômico), Evaldo Costa (Imprensa) e Laura Gomes (Desenvolvimento Social e Direitos Humanos).