Em um momento em que crescem os rumores de uma possível candidatura de Eduardo Campos (PSB) à Presidência da República, a revista Época publicou no final de semana um perfil do socialista, ocupando dez páginas. Intitulada “Quem tem medo dele?”, a reportagem pode ser um primeiro passo na briga para vencer um dos principais empecilhos de uma cadidatura presidencial do governador: a baixa aceitação de seu nome no Sul e Sudeste, notadamente nos estados de São Paulo e Minas Gerais. A publicação o classifica como “o protagonista da política nacional e nome incontrolável nas conversas sobre sucessão presidencial”.
A justificativa para um perfil tão extenso é o fato de Campos apresentar a maior aprovação entre os dez governadores pesquisados pelo Ibope no final do ano passado (34% acham sua gestão “ótima”; 45%, “boa”; 15%, “regular”; 4%,“ruim”; e 3%,“péssima”). A matéria faz um resgate da história do gestor de modo a humanizá-lo. Dá destaque a trejeitos, características físicas e relações pessoais. Traz depoimentos de aliados e adversários. O senador Humberto Costa (PT), por exemplo, diz que o socialista “segue a máxima de Maquiavel: o príncipe não deve ser amado, deve ser temido”.
Já na abertura, o texto fala sobre o modo como Eduardo Campos manobra a cadeira giratória, seu “dorso ainda atlético de 47 anos” e divaga a respeito de seus olhos. “Seus translúcidos olhos verdes são, surrupiando um autor contemporâneo, como pássaros querendo voar para fora da cara”, afirma o jornalista. “Campos é, sobretudo, olhos. Na beleza variante da cor, que fisga a atenção, e, principalmente, na mirada, no manejo que lhes sabe dar, ora águia, ora cobra, focados na sedução”, completa.
O governador é apresentado como um gestor rígido e exigente, que monitora de perto sua equipe, estabelece metas e cobra resultados. Mas é também mostrado como “um craque na arte de contar causos e fazer imitações”. Sua figura, de acordo com o texto, é a figura de um sedutor que sabe agregar ao redor de si, fragilizando qualquer forma de oposição. Como exemplo desse poder de evitar opositores, é citada a aproximação entre Eduardo Campos e o senador Jarbas Vasconcelos, que se concretizou na eleição de 2012. Assuntos mais polêmicos e que poderiam arranhar a imagem do socialista, como o escândalo dos precatórios, a fama de coronel e denúncias de nepotismo no governo, são tratadas sem grande destaque, e de forma amena, diferente do que tem sido feito outros veículos da Região Sudeste.
O texto arrisca até mesmo uma avaliação de cenário e previsão de movimentação política: “Antes da eleição municipal de Pernambuco, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava disposto a costurar sua candidatura a vice-presidente -, já em 2014. Depois que Campos praticamente humilhou o PT, ao lançar candidato próprio à prefeitura do Recife – e vencer -, Lula e Dilma sabem que ficou mais difícil. O desejo de ambos é mantê-lo na canoa, para, quem sabe?, um voo solo em 2018. Ser ministro de Dilma reeleita, em pasta de visibilidade, é uma possibilidade”.