Cadê o Ministério?
Ano passado, escrevi três matérias falando da seca e li outras tantas sobre o mesmo assunto e, por incrível que pareça, o assunto não vai esgotar-se facilmente. A insistência é grande, mas nada representa se comparada ao caos que está instalado no Nordeste e às perspectivas bem piores para o triênio que se inicia em 2013. Permita o Criador que os técnicos estejam enganados e que a calamidade que se estabeleceu no último ano pare por aqui.
Seria muito bom não ter que escrever sobre problemas dessa ordem, mas, infelizmente, convivemos com esse fantasma que tanto tem massacrado os Nordestinos, e, aproveitando um editorial que vi no final do ano, mesmo a contragosto, resolvi pegar um gancho e voltar ao assunto da imensa estiagem que tanto flagelo tem causado à nossa população mais carente.
Quando Fernando Bezerra Coelho foi escolhido ministro da Integração Nacional pareceu, no primeiro momento, absolutamente correta a indicação do governador Eduardo Campos, e apropriada a nomeação pela presidente Dilma Rousseff. Tratava-se de um político sertanejo, com larga experiência administrativa e visão integral dos problemas do Nordeste, o que nos levava a crer que assim estariam garantidas obras que vinham sendo procrastinadas desde o tempo do Império, como a ferrovia Transnordestina e a monumental transposição das águas do Rio São Francisco.
Hoje, ao final do segundo ano de governo e diante da imagem de terra arrasada que se tem das obras da transposição, há sérias dúvidas se o ministério cumpre o papel que o Nordeste espera dele.
Não que o ministro careça de competência para a tarefa, mas parece-nos que, diante de nossa realidade e do que poderia ter sido feito, há uma evidente demonstração de vazio de autoridade. O ministro não tem sido capaz de fazer valer as atribuições do seu ministério, o que nos leva a desconfiar de que não tem o acesso que deveria ter ao núcleo do poder ou de que padece de credibilidade junto à autoridade executiva máxima da República ou, por fim, de que todo esse núcleo de poder está se lixando para a gravidade da seca no Nordeste.
A longa estiagem que castiga os nordestinos, com o homem passando fome e sede e os animais morrendo de inanição, deixa no ar uma pergunta: como entender a omissão do Ministério da Integração Nacional que além de ser o organismo que deveria estar à frente das ações emergenciais é comandado por um nordestino, pernambucano e sertanejo? A apatia do ministério se apresenta como inaceitável dentro dessa realidade.
O que perguntamos é se a presidente Dilma Rousseff está sendo informada do tamanho do problema por que passam os nordestinos, o que seria perfeitamente dispensável, considerando-se que a tragédia de nossa região é narrada em capítulos diários em jornais, rádios, televisões e acreditamos que, em função mesmo da importância de seu cargo, a presidente deve saber o que se passa em todo o País.
Entretanto, é justo que se constate que também há um imenso vazio entre todas as lideranças políticas nordestinas em relação a mais esse grave episódio de sofrimento que se abate sobre os sertanejos. O fundamental seria que se unissem todas as lideranças, de todos os partidos, que se aliassem à sociedade civil e organizada – aí entendidos os dirigentes de todas as entidades representativas de classes, de patrões e empregados, das cidades e do campo – para elevar aos quatro cantos do país, as agruras dessa gente sofrida.
Chega de discursos inflamados na tribuna da Câmara ou do Senado, citando Euclides da Cunha e a frase “o sertanejo é antes de tudo um forte”, desgastada pelo tempo e pelo uso.
Precisamos de ações concretas, rápidas e eficientes. Ninguém aguenta mais tanto clamor.
Por: Danizete Siqueira de Lima.