DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS!?
Não se pode aceitar passivamente que o Afogarêta seja realizado na avenida Rio Branco e o Encontro de Motociclistas ocorra no Centro Desportivo.
É verdade que a realização dos eventos movimenta a cidade e agrega algum benefício econômico e social para a população. No entanto, nossa cidade precisa de políticas públicas para diversificar e incentivar as iniciativas populares de produção cultural como necessidade básica e direito fundamental dos cidadãos. Deste modo, pode-se observar que a legitimidade do encontro promovido pelos vários clubes de motociclitas encontra respaldo diante da possibilidade de agregar indistintamente e sem qualquer restrição a participação do povo. Durante o evento o acesso é totalmente aberto ao cidadão! É marcado pela reunião fraterna de amigos que se envolvem com a população de maneira festiva e solidária. O Afogarêta trata-se de evento restrito aos que podem pagar para usufruir do espaço destinado aos foliões que compram seu abadá ou camarote. A lógica é auferir lucro! Só participa quem pode pagar e apenas paga quem pode entrar. Os demais estão excluídos dessa produção cultural, que se utiliza, geralmente, de espaço público para se beneficiar e fortalecer o poder econômico de poucas pessoas.
Nesse sentido, os poderes públicos deveriam auxiliar na integração das políticas públicas na luta contra qualquer discriminação no acesso à cultura, a fim de que o crescimento econômico não aprofunde as desigualdades sociais. O Ministério Público certamente tem acompanhado a movimentação de qualquer atentado que viole à direito fundamental relacionado à cultura e aos direitos humanos, consagrados constitucionalmente.
O Encontro de Motociclistas era para acontecer na avenida Rio Branco, bem como os organizadores do Afogarêta deveriam patrocinar adequada estrutura física que fosse ampla, segura e higiênica para os foliões do carnaval fora de época. O interese público deve estar acima de qualquer interesse privado.
O porte de um evento é diferente do outro! É importante ficarmos atentos visto que a influência política tende a repercutir os interesses do poder econômico nas decisões administrativas das instituições públicas.
Carlos Eduardo Queiroz Pessoa
Mestrando em Ciências Sociais (UFCG)