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CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

Noventa e sete anos depois

A seca de quinze que expôs o flagelo da estiagem, matou animais, matou gente e inspirou literatos voltou com força total. Em dezembro de 2012 no trajeto de 10 km entre Alegrete do Piauí e Francisco Macedo contei seis carcaças de animais mortos na beira da BR 316, é mais de um animal por Km.

Em Marcolândia na divisa de Pernambuco com Piauí ouvi de um morador: “Meu filho moro nesta região há 68 anos e nunca vi uma seca desta, está morrendo tudo. Nosso sofrimento ao ver uma cabeça de gado morrer é grande”. Eu lhe respondi: “Sei o que isto significa, na minha infância ajudei colocar vaca que não se sustentava em pé em armação improvisada”.

Ao chegar ao Pajeú constatei que a situação é insustentável, são cidades e mais cidades em total colapso d’água e obras emergenciais e eleitoreiras por todo lado. São milhares de canos espalhados nas margens das rodovias e a água no leito do Rio São Francisco. As adutoras prometidas estão no papel e os recursos nos bolsos das grandes empreiteiras.

De Jabitacá até Patos na Paraíba o cenário é desolador. Na região do Piancó os reservatórios não passam de filetes d’água e a vegetação na cor da morte espera pela chuva que teima em não aparecer.

Somente na área de transição entre as serras da Borborema e do Araripe é que um verde pálido começou a aparecer. O vale do Cariri que corta áreas de Missão Velha e Barbalha está com uma aparência opaca, sem o viço de outrora.

O homem do sertão continua o mesmo. Munido por uma fé cada vez maior em Deus, conformado com a condição de eleitor de político explorador e esperançoso com a solução dos graves problemas. É ingenuidade demais.

Somente obras estruturantes solucionarão os problemas da estiagem, remendos não resolvem. Nossos avós já sabiam disto e continuamos adiando as soluções. Este modelo é o ideal para os manipuladores dos recursos que não chegam aos locais das tragédias e por isto mesmo não sofrem alterações.

Que o britador da miséria não triture a “rocha inerte” que é o homem do sertão. Este caboclo não merece ser transformado em pó, sua essência é rica demais para ser esmagada pelas máquinas das grandes obras.

O quinze do século passado veio três anos antes. O cavalo foi trocado pela moto; a carta pelo celular; o barracão pelo supermercado e a fome? Esta tem a mesma versão: Mata os animais, traz sofrimento e mantém a dependência. Os maus políticos adicionaram “Filho” e “Neto” aos nomes originais.

Por: Ademar Rafael


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maria liraneidenogueira
11 anos atrás

Esta é a mais pura verdade. A realidade, nua e crua. Quem pode mudar o rumo da história, não tem interesse. Nem político, nem humano. Para eles, não é lucrativo. Acabar com a seca significa libertar o povo das algemas. É abrir as porteiras dos currais eleitoreiros. É dar ao povo poder de escolha e de barganha. Há interesse???