De quem é a falta de vergonha?
Em nossas rotinas diárias, no trabalho, em casa com a família, nas rodas de amigos ou mesmo em bate-papos informais é comum ouvirmos alguém dizer: Eu tenho vergonha de ser brasileiro. Esse país me dá nojo ou, se eu pudesse me mandaria desse lugar e nunca mais voltaria. É esse o país das desigualdades sociais, dos desmandos com o erário público, da falta de compromisso para com seus filhos mais humildes e, sobretudo, “O PAÍS DOS ESCÂNDALOS”.
São tantos os escândalos que antes de absorvermos um logo vem outro… e outro… e outro. Eles vêm e vão como num passe de mágica. A rapidez com que acontecem nos deixa tão atordoados que perdemos a capacidade de raciocinar e fazer algum juízo de valor.
Até bem pouco tempo só se falava na Farra dos Panetones, em seguida veio o Mensalão, Carlinhos Cachoeira, governo de Goiás, Construtora Delta e por aí vai. Quando pensávamos que estava tudo tranquilo, vem o escândalo que foi batizado pela Polícia Federal de Operação Porto Seguro, envolvendo Rosemary Nóvoa Noronha, secretária particular do ex- presidente Lula e depois chefe de gabinete do escritório da presidência, entre os anos de 2003/2012.
Na mesma semana que estourou a operação o assunto que estava na “ordem do dia” era o pagamento do IR-Imposto de Renda devido sobre os 14º e 15º salários dos senadores e a pergunta que se fazia era: De quem é a conta? Uma parte dos senadores admitia que era deles, outra, que era de obrigação da União.
No caderno de política do Jornal do Commércio de 28.11 que trata do assunto, lê-se o seguinte: Pelos dados divulgados ontem à noite (27.11) mais da metade dos 81 senadores resolveu quitar o imposto com dinheiro público. Valor aproximado do imposto: 5.000.000,00 (cinco milhões de reais). Esses salários no valor de R$ 26.700,00 cada, foram pagos no período de 2007/2011.
E como a farra do boi não pode parar, aí vai mais uma: Quatro anos depois de apresentado pelo então presidente Lula, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do senado, aprovou em 28/11/2012, o projeto de lei que cria 98 cargos comissionados em órgãos vinculados à Presidência da República, com salários que vão de R$ 4.000,00 a R$ 9.000,00.
Houve contestação da oposição alegando o “estrago” provocado no governo por servidores ocupantes de cargos de confiança, como é o caso da Rosemary, mas o relator da matéria, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), defendeu que os cargos “contribuirão para o aprimoramento dos mecanismos de articulação entre o governo e a sociedade”.
Para não me estender muito vamos fazer uns cálculos rapidinhos. Se os salários para esses cargos variam entre 4 e 9 mil reais, teremos um salário médio em torno de R$ 6.500,00. Se multiplicarmos esse salário por 98, chegaremos a R$ 637.000,00, que representa um custo anual, sem os encargos sociais, de R$ 7.624.000,00 (sete milhões, seiscentos e vinte e quatro mil reais).
Viram como é simples. Esse custo equivale a uma vez e meia o valor do Imposto de Renda que vamos pagar pelos 14º e 15º salários dos senadores que aprovaram o citado Projeto de Lei, e se pudemos pagar pelos senadores, por que não pagarmos pelos servidores, ainda mais quando se trata de uma mixaria dessas, se levado em conta o argumento usado pelo relator da matéria (que cara de pau).
O curioso em tudo isso é que quando não pagamos o imposto de renda que devemos ou, simplesmente, damos uma informação errada, o “ Leão”. vem em cima da gente com gosto de gás e aí não tem boquinha: ou você resolve a bronca ou se ferra. Agora, além do nosso imposto teremos que arcar com o dos “coitadinhos dos senadores”.
No caso dos cargos comissionados cabe uma pergunta: Se a máquina vinha funcionando desde 2009 sem esses cargos, não poderíamos prescindir deles? Ou será que esses cargos servirão para substituir essa corja de malfeitores que está saindo por conta da Operação Porto Seguro?
Encerro meus comentários com a pergunta que fiz no início da matéria: De quem é a falta de vergonha?
Por: Danizete Siqueira de Lima.