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O QUE VESTIR? O QUE CALÇAR?

Em recente viagem, no período de uma semana, fui barrado duas vezes em função da roupa que usava. Na primeira por está com uma camisa de time de futebol e na segunda por está de bermuda.

O que para muitos representa constrangimentos para mim são fatos que em nada alteram meu humor. Sempre uso as roupas que acho adequadas e nunca as que as convenções sociais definem.

Isto é antigo e vai comigo ao cemitério. No dia de minha posse no Banco do Brasil, nos idos de 1977, fui com uma bela e confortável sandália confeccionada por mestre Zé Humberto. Depois de assinar os papéis o Gerente recomendou que eu procurasse imediatamente uma loja para comprar um par de sapatos, assim o fiz contra vontade.

Deixei de participar de muitas festas cujo convite indicava o tipo de roupa a usar. Em qualquer lugar onde a vestimenta é mais importante do que eu, não me sinto bem, a festa fica lá e eu cá.

No livro “O profeta”, de Kahlil Gibran, existe um diálogo entre um tecelão e Al-Mustafa que caminha na direção do meu entendimento. Ao ser indagado sobre roupas respondeu o profeta: “Vossas roupas escondem muito de vossa beleza, embora não esconda o feio” e finaliza afirmando: “E não esqueçais que a terra se delicia ao sentir o peso dos vossos pés descalços e que o vento anseia por brincar com vossos cabelos”.

Numa época onde o consumismo e o politicamente correto dão ás cartas nas relações teimar em ser diferente custa caro expõe o “contraventor” a criticas. Numa das datas mais importantes da minha vida, festa dos meus sessenta anos, lá estava eu com uma camisa polo, uma calça jeans e uma alpercata de couro feita por Expedito Seleiro, famoso artesão cearense.

No dia do meu casamento fui obrigado a quebrar todas as restrições impostas pela minha teimosia, vesti a roupa que me obrigaram.

Para mim a pergunta nunca será: “Com que roupa?”, talvez seja: “Vão me deixar entrar?”.

Por: Ademar Rafael