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Crônica de Ademar Rafael

SERVIDÃO VOLUNTÁRIA?

Julgo que as ocorrências vivenciadas no mundo atualmente podem ser sintetizadas na seguinte sextilha: “Hoje o oprimido beija/A mão do seu opressor/O torturado defende/Teses do torturador/E o ódio pisa na cova/Onde enterraram o amor.” Tais fenômenos são amplamente estudados e ninguém chega a uma conclusão lógica.

No entanto em 1549 o filósofo francês Étienne de La Boétie ao escrever “Discurso sobre a servidão voluntária” sugere linhas de raciocínios capazes de nos encaminhar para decifrar os posicionamentos adotados.  O texto é duro e serve como uma luva para o momento atual.

Para o humanista francês, que viveu apenas trinta e três anos – 1530-1563 -, só existe uma prisão possível: Aquela que você mesmo construiu e cuja porta, por estranho deleite, você fechou. Ele afirma categoricamente: “Saiba sempre que toda servidão é voluntária. Sua liberdade é sua e você pode entrega-la a qualquer um que desejar. Os tiranos agradecem.”

Ao vemos pessoas agredindo seus pares e defendendo teorias de “salvadores da pátria” cujos atos guardam zero de aderência com as suas causas e seus direitos enxergamos na base destas ações o que Boétie pondera em sua obra. A lógica seria os iguais se unirem contra quem os exploram, nos últimos anos observamos contrário. O modelo em uso é exatamente o que narra a estrofe transcrita no parágrafo inicial deste texto.

Em um dos pontos altos da obra Étienne escreve: “Há três tipos de tiranos: Uns possuem o reino por eleição do povo, outros por força das armas, outros pela sucessão da sua raça…” Especificamente para o primeiro tipo destaca: “Aquele cujo poder foi concedido pelo povo deveria ser, parece-me, mais insuportável e creio que realmente o seria senão pelo fato de que, uma vez que se vê acima dos outros…” Este tirano, sob meu ponto de vista, é o que manipula as mentes dos seus seguidores fazendo deles contingente que serve de argamassa para sua tirânica obra. Regatar essas pessoas da escuridão é uma missão impossível, a liberdade foi perdida.


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