SABEDORIA SEM LIVROS
Recentemente em um passeio no mangue formado pelo Rio Camaratuba, que nasce no município paraibano de Serra da Raiz, mantive um “papo raiz” com um descendente da tribo pitiguara que conduzia o barco e explicava as particularidades da região.
Ao falar sobre a melhor época para catar o caranguejo que ali habita. Disse-nos que tal crustáceo engorda nos meses sem “r”, isto é de maio até agosto e complementou que ele, na condição de nativo da região, consegue sentir um “cheiro diferente” ao se aproximar do ambiente em determinada época. Quando isto acontece sabe que a cata será farta e os caranguejos estão nas melhores condições para consumo humano.
Esta informação sobre o “cheiro diferente” do mangue não passou despercebida para este cronista. A literatura sobre o assunto diz que em função da baixa presença de oxigênio e da sua composição o mangue gera cheiro desagradável de enxofre. Quem teve oportunidade conviver com os povos primitivos expande o olhar e enxerga a capacidade que esse povo tem de decifrar enigmas indecifráveis por nós estrangeiros. De fato, os nativos dispõem de uma sabedoria não encontrada nos livros é nata. Não é ensinada nas escolas convencionais.
Tal fenômeno é tradado com clareza na famosa fábula “Os sons da floresta”, que narra a história de aprendizado do príncipe Tai com o mestre Pan Ku, ocorrida no século III d.C. Nesta linda fábula descobrimos que para ouvir tais sons é necessário ignorar os “sons do bioma como o canto dos pássaros, o soprar das folhas e o barulho dos animais no geral” e nos entregarmos plenamente até ouvir “o som das flores se abrindo, do sol aquecendo a terra e da grama bebendo o orvalho da manhã”.
Caras leitoras e caros leitores se saímos do mundo material chegaremos a um mundo onde conseguiremos ouvir o inaudível, ler o que não está escrito e sentir o cheiro que o indígena potiguara sente.