Por: Milton Oliveira
Perdi. É lamentável, mas é verdade. Sobrar-me-á a porção maior e mais desagradável do nosso amor desfeito, porque aos vencidos são destinados a dor lancinante e o desgosto mais profundo.
Fascinou-me tua inteligência, tua perspicácia, a pulcritude do teu rosto jovem. E te amei sem limites, compreendendo teus deslizes e perdoando tua lascívia. Mesmo assim, te perdi.
Achacoso, em razão do teu execrável vilipêndio, desço até o último degrau. Sei que estou fadado a padecer por largo tempo. A desdita ganha proporção à medida que sinto que me fora negada a oportunidade de esclarecer o mal-entendido. Simplesmente prevaleceu tua infame conclusão; escarmento que terei de carregar comigo pelo resto da vida.
Fostes embora, raivosa. Levastes contigo o que havia de melhor em mim; não deixaste nada além da censura acetosa e esse amor órfão e esparramado pelo chão. Ah! Eu era bonito e feliz ao teu lado!
É no silêncio das madrugadas prenhes de amargor que se encorpa teu desenxabido adeus. Tento esquecer o ocorrido, porém me saltam aos olhos os detalhes da partida inopinada; a ferida dentro do peito verruma meu coração já confrangido pelo desprazimento.
Cerro os olhos e te vejo puxando a porta atrás de ti; sozinho e atordoado, quase me jogando ao chão, compreendo que ficar sem teu amor é mais do que uma desgraça; é um martírio inominável!
Teu rosto, meigo e lindo, está impregnado de dor e lágrimas; dessa forma o vejo, ao me virar na cama, o quarto no escuro, meu atual jazigo, então me desespero.
Sufocado por esse episódio cruel que é o teu adeus, sinto dificuldade em respirar; esforço-me em reaprender, à custa de persistência. E nas caminhadas longas e solitárias, exercito-me para que a afasia não me domine, porque, a continuar reprimido por esse desgosto atroz, amanhã saberei pronunciar, apenas, teu nome.
Minhas mãos sentem falta do calor das tuas, pequenas, úmidas e cheias de ternura; minhas pernas reclamam a ausência dos parceiros passos distribuídos ao longo dos nossos caminhos de sonhos e expectativas; minha boca só tem gosto de sal e lágrimas, não mais do calor dos teus beijos ardentes, nem das tuas pomas macias, menos ainda do teu corpo esbelto, tão voluptuosamente amado nas nossas noites de prazer.
Hoje, acomete-me o desejo insano de sair correndo a gritar teu nome, na esperança de que o vento transporte aos teus ouvidos o clamor do meu desespero.
Não sei mais de mim; a dor cegou-me. Se, antes, incomodava dentro do peito; agora, generalizou-se pelo corpo inteiro. Mutilado, só o apoio dos teus braços irmãos poderá ajudar-me a corrigir meus passos claudicantes.
É triste, mas tenho de reconhecer: estou impregnado pelo lodo do martírio que tua ausência me legou. Sem luz, sem sol, sem água. Sozinho e feio!
Perdi. Infelizmente, perdi.