LÍDERANÇA E COERÊNCIA
Muitas vezes sou questionado por amigos sobre minha visão pragmática e realista sobre o Brasil. Sempre ponderam que não me permito cair na tentação dos otimistas e nem trânsito pelo mundo do pessimistas. A origem desse posicionamento é que busco coerência entre o que penso e a forma que atuo como cidadão e como profissional na formação de jovens ou em consultorias às organizações empresariais do setor privado ou em órgãos públicos.
No mundo onde as redes sociais ditam regras de comportamento ser coerente é algo cada dia mais raro, no meio político é praticamente impossível a identificação. Sobre a coerência de um político ao ler o livro “Arraes”, de autoria de repórter Tereza Rozowykwiat, identifiquei claramente essa característica no líder de Araripe que mudou a cara da cidade do Recife e do estado de Pernambuco ao exercer os cargos de prefeito, secretário de estado ou governador.
Na obra identificamos que a conduta do velho Arraes leva fortes traços de coerência com sua linha ideológica e sua capacidade de olhar para os excluídos. Permitam-me, com os riscos presentes em todas as escolhas, separar três momentos em que o eterno governador de Pernambuco se manteve fiel às suas convicções.
Mesmo entendendo que poderia ter sido escolhido para o cargo de governador na eleição de 1982, ao perder a indicação para Marcos Freire durante a campanha não fez boicote à candidatura do senador do slogan “Sem ódio e sem medo”. Na eleição de Jarbas Vasconcelos para prefeitura de Recife, em 1985 contra Sérgio Murilo o velho Arraes ficou com Jarbas e se empenhou na campanha. Após a derrota de Emenda Dante de Oliveira, mesmo criticando a legitimidade do Colégio Eleitoral, deu apoio para candidatura de Tancredo Neves. Em todos estes momentos Arraes preferiu ser coerente e dar ao sentido de missão maior importância do que aos interesses próprios e/ou percepção míope dos políticos comuns.