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Quando tu Fores Embora

Por: Milton Oliveira 

Quanto tu fores embora, também embora estarei indo eu; tu para distante de mim; eu para dentro do meu peito, na ânsia insana de ocupar o espaço que deixarás vazio, só assim a dor, que virá morar comigo, não encontrará espaço para seinstalar para sempre.

Quando tu fores embora, levarás minha alma contigo, para que outro perjuro não me acenda a luz dos olhos, ao sabor da ingenuidade própria de quem ama.

Quando tu fores embora, verei a solidão tomar teu lugar nos caminhos por onde passamos, na cama onde nos deitamos, na sala onde víamos televisão; então, angustiado, dar-me-ei conta do desperdício das horas que não usufruímos juntos, em razão dos compromissos sociais; éramos duas vidas jungidas pelo amor; somos, agora, dois inconsequentes e iremos amargar duras penas, posto condenados estarmos ao mal do amor incompreendido.

Não passearei mais com o cachorro na rua que era nossa, não mais regarei as plantas do nosso jardim, nem colocarei flor alguma em teus cabelos; não alimentarei mais esperança alguma, quando tu te fores.

Na partilha dos nossos bens, ser-me-ão legados sombras, dor e solidão, apenas. Sei, no entanto, que não levarás as melhores porções contigo, porque irás chorando, e quem chora desconhece o valor do que há ao seu redor. Mesmo assim te invejo: tens a estrada à tua frente e te encontras livre de amarras; esqueceste, porém, de liberar os grilhões que me prendem a ti, e não me sobrou local algum para onde seguir, senão para o mundo particular onde construímos nossos sonhos e que, agora, lamentavelmente, encontra-se imerso na sombra e na dor.

Quando tu fores embora, saberás quais são nossos verdadeiros amigos. Não me digas que eles ficarão ao meu lado; sabes, perfeitamente, que tudo que é importante levarás, quanto tu fores embora. E se julgares que eles virão me consolar e falarão mal de ti, recorda-te que nunca encontrei defeito em ti, nem mesmo o de me amares tão pouco.

E se algum dia, eu, melancólico, estando debruçado à janela, quando não mais souber como respirar dentro de casa, em razão de tua ausência dolorosa, lembra-te de que há outras ruas paralelas à nossa; então, por Deus, não passes aqui na frente, para que eu não me engane acreditando que estás voltando.

Quando tu fores embora, tudo se acabará para mim. Tudo! Não identificarei nossas estrelas no céu, verei se perderem os sonhos que passarão a ser só meus, e não saberei onde foi se esconder a beleza das noites enluaradas.

E dos teus risos que me enchiam de alegria, só restará o silêncio.

E o som das tuas palavras amorosas não mais chegará aos meus ouvidos sedentos de ti.

Quando tu fores embora, ficarei chagado pela dor, pútrido de saudade, alucinado com tanta solidão.

Não sou nada sem ti. Nada! Bem sabes.

Entretanto, quanto tu fores embora, pelo amor de Deus, seja para sempre:nunca mais voltes para mim, porque me encontrarás alquebrado: os cabelos brancos,o peito dilacerado, os olhos vazados de tanto chorar. Então dirás, num instante de tardio remorso, que ainda me amas.

Mas eu já não te amo mais; o sofrimento emurcheceu meu coração. Tão decidida estavas ao me deixar, sem compaixão alguma, que nem percebeste que eu morria, quando tu foste embora.

*Milton Oliveira – Afogadense, advogado e escritor 


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Francisco Amaro de Andrade
1 ano atrás

Meu caro Milton, ex-colega DO BB, hoje, escritor e estimado amigo. Muito bonita a crônica. A dor do Amor faz muita coisas e de caracter muito íntimo e só quem sabe é aquele que já passou por isto. Valeu amigo. Andrade – FORTALEZA CEARÁ