
As comemorações do aniversário de emancipação de Afogados da Ingazeira consagram uma história centenária de avanços políticos, econômicos e sociais. É preciso renovar a fé que acredita na esperança da mudança!
Considerada cidade polo, a vocação de lideranças políticas e religiosas proeminentes alavancou conquistas que projetaram a cidade como “Princesa do Pajeú”. Apesar dos limites, o povo tornou possível forjar um pacto social estabelecido entre a fé e a política como espaço de poder representativo mediado pelo Clero, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e as classes dirigentes da esfera pública e da sociedade civil organizada.
Sede da Diocese, cuja padroeira é Santa Maria Madalena, o Episcopado promoveu a integração de uma circunscrição pastoral de vasta região com inúmeras cidades. Unida ao movimento sindical possibilitou a articulação popular comprometida em vencer as forças do atraso, sobretudo contra sistemas de poder autoritários. Por isso, a participação popular é a força motriz que move a política afogadense.
A ampla articulação política das classes populares incorporou as condições ideológicas de unidade social com a participação da Rádio Pajeú como sistema de comunicação. O sentido da experiência histórica do povo afogadense pode ser compreendido enquanto processo de diálogo permanente com o sindicalismo rural em sintonia com as diretrizes da missão pastoral da Igreja Católica. Na América Latina, a opção preferencial pelos mais pobres é o núcleo sagrado da identidade cristã.
Em busca de consolidar um projeto de poder religioso, como proposta de superar os desafios que afetam a vida do povo, a emissora de Educação Popular catequizou, ensinou e revolucionou. A educação sempre foi compromisso pastoral da emissora, assumindo sua missão evangelizadora estimulada, também, com a transformação social, porque era preciso superar o analfabetismo. Criar um novo paradigma sociocultural.
No âmbito da formação humana cristã, transcender a miséria e a fome era crucial para mudar a vida do povo. Mas educar se constituía projeto pedagógico revolucionário. Fé e razão fundamentavam a ação. Um povo consciente e capaz de assumir seu próprio protagonismo histórico sempre pode infundir uma nova ordem societária, baseada na justiça e na paz. As condições de opressão são solapadas por um povo unido social e organizado politicamente. Entretanto, o uso do poder religioso para a manipulação política suscita sempre o perigo do fanatismo que descamba em terrorismo.
O contexto de ódio e criminalização da política é o terreno fértil para o surgimento de falsos profetas revestidos por um suposto cristianismo messiânico. Não obstante o grave problema da deliberada adesão ao cristo fascismo, caracterizado por uma cresça sócio religiosa irrestrita atribuída à liderança política, a instrumentalização do poder religioso se utiliza da desinformação e tenta manipular a opinião pública, através das redes sociais.
Púlpito de Igreja não é palanque eleitoral. Bíblia Sagrada não é manifesto político.
Carlos Eduardo Queiroz Pessoa – Professor e Educador Popular
