O cerco ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela investigação da Polícia Federal, determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), já começa a levar preocupação ao Palácio do Planalto e grande insatisfação entre generais da ativa do Exército.
Entre auxiliares do governo, avaliação é que essas ações contra Pazuello podem respingar diretamente no presidente Jair Bolsonaro, que pressionou publicamente pelo a adoção da cloroquina como tratamento eficaz para pacientes com Covid-19. De acordo com pesquisas científicas no mundo inteiro, o remédio não serve para tratar a doença.
Os dois antecessores de Pazuello, os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, saíram do governo por discordarem de Bolsonaro sobre o protocolo para o uso da cloroquina.
Ao mesmo tempo, generais da ativa e da reserva do Exército temem que essa gestão temerária de Pazuello no comando da Saúde respingue na imagem da Força, até porque o ministro é um general da ativa e se recusou a ir para a reserva.
Nesta terça-feira (26), o Tribunal de Contas da União (TCU) apontou ilegalidade no uso de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) para o fornecimento de cloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19 e deu cinco dias para o Ministério da Saúde apresentar explicações.
Em despacho, o ministro Benjamin Zymler afirmou que o fornecimento do medicamento para tratamento não tem comprovação científica e que o remédio — utilizado no tratamento da malária — só poderia ser fornecido pelo SUS para uso contra a Covid-19 se houvesse autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ou de autoridades sanitárias estrangeiras, o que não ocorreu.
Já a Polícia Federal recebeu oficialmente, também nesta terça, a notificação do ministro Ricardo Lewandowski, do STF, determinando a instauração de inquérito para investigar a conduta de Pazuello na crise da saúde no Amazonas.
A próxima etapa é a instauração pela PF da investigação, que deve tramitar no Serviço de Inquéritos Especiais (Sinq), porque Pazuello, na condição de ministro, tem foro privilegiado. Na sequência, a PF deverá procurar Pazuello para agendar o depoimento.
Como informou o blog, o presidente Bolsonaro tem usado Pazuello como uma espécie de escudo tanto de investigações que começam a ser feitas como também para evitar um desgaste maior de sua imagem. Mas até mesmo aliados reconhecem que fica cada vez mais difícil blindar Bolsonaro dos questionamentos sobre as ações de Pazuello.
Em outubro, quando contraiu a Covid-19, o próprio Pazuello chegou a afirmar numa live ao lado de Bolsonaro que “um manda e o outro obedece”, explicitando que cumpria ordens do presidente. (Por Gerson Camarotti – Comentarista político da GloboNews, do Bom Dia Brasil, na TV Globo, e apresentador do GloboNews Política. É colunista do G1 desde 2012)