O presidente Jair Bolsonaro falou sobre a questão racial no Brasil e disse que há pessoas que tentam dividir o país, importando para o nosso território tensões alheias à nossa história. A manifestação do presidente vai na contramão das mensagens de instituições e representantes da sociedade civil.
O presidente falou durante encontro do G-20 e começou o discurso para líderes das economias mais ricas do mundo falando da questão racial. Usou o mesmo tom de uma postagem feita na sexta-feira (20) nas redes sociais e disse que há interesses por trás de quem promove conflitos.
“Antes de adentrarmos o tema principal desta sessão, quero fazer uma rápida defesa do caráter nacional brasileiro em face das tentativas de importar para o nosso território tensões alheias à nossa história. O Brasil tem uma cultura diversa, única entre as nações. Somos um povo miscigenado. Brancos, negros e índios edificaram o corpo e o espírito de um povo rico e maravilhoso. Em uma única família brasileira podemos contemplar uma diversidade maior do que países inteiros. Foi a essência desse povo que conquistou a simpatia do mundo. Contudo, há quem queira destruí-la, e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças, sempre mascarados de ‘luta por igualdade’ ou ‘justiça social’. Tudo em busca de poder. Não somos perfeitos. Temos, sim, os nossos problemas. Existem diversos interesses para que se criem tensões entre nós. Como homem e como presidente, enxergo todos com as mesmas cores: verde e amarelo. Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. O que existem são seres humanos, bons e maus, e são as nossas escolhas e valores que determinarão qual dos dois grupos nos incluiremos. Aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e promovendo conflitos, atentam não somente contra a nação, mas contra nossa própria história”, disse.
Desde o momento do assassinato de João Alberto começou um grande movimento de solidariedade e manifestações contra o racismo no Brasil. Diversas autoridades e entidades de sociedade civil se pronunciaram, defendendo posições opostas a do presidente, reforçando a importância de medidas e ações para combater práticas racistas no país.
Em nota, o escritório das Nações Unidas no Brasil disse que o debate sobre a eliminação do racismo e da discriminação racial é, portanto, urgente e necessário, envolvendo todas e todos os agentes da sociedade, inclusive o setor privado.
A ONU Brasil insta as autoridades brasileiras a garantirem a plena e célere investigação do caso e clama por punição adequada dos responsáveis, por reparação integral a familiares da vítima e pela adoção de medidas que previnam que situações semelhantes se repitam.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pediu união contra o racismo: “Junto minha voz a dos que protestam contra a violência que levou à morte um homem, brasileiro e negro. Sei que o racismo e o preconceito sobre negros é forte em nossa cultura. Cabe a todos lutar contra eles, especialmente aos líderes e aos que conhecem nossa realidade. Basta!”
O senador Fabiano Contarato, vice-líder da Rede no Senado, afirmou que é de vozes negacionistas como Mourão e Bolsonaro que o racismo estrutural vai sendo construído tijolo a tijolo. “O Brasil mantém erguida uma muralha invisível de um apartheid tácito que, para seguir oprimindo e segregando, precisa se manter disfarçada.”
Na sexta-feira, o vice-presidente Mourão disse que não há racismo no Brasil. A fala também provocou críticas do movimento Black Lives Matter – Vidas Negras Importam, que republicou mensagens de outro grupo internacional que reúne 150 organizações que lutam contra o racismo. A série de postagens, em inglês, explicam ao mundo o que aconteceu em Porto Alegre. Eles destacam que o racismo é uma ameaça às vidas negras. Ao destacar a fala do vice-presidente Mourão, o grupo disse que ela é inaceitável, que é preciso mudanças que impactem o racismo estrutural.