Por: Milton Oliveira
Dentre algumas coisas carentes neste país, o funcionalismo público é algo irritante. A bem da verdade, nem todo funcionário público é deficiente; entretanto é tão grande o número dos que são, que os outros, aqueles que são profissionais responsáveis, terminam pagando injustamente.
Outro dia, com minha mãe adoentada e em idade provecta, tive de acompanhá-la, com o dia a raiar, a um desses hospitais públicos, em busca de determinado exame requerido pelo seu geriatra. Chegando lá, encaminharam-nos para uma fila enorme, porque era preciso fazer uma triagem. Deixei minha mãe sentada num local onde eu pudesse vê-la. Ao chegar minha vez de ser atendido, fui informado que estava na fila errada. Esta era para quem já tivesse passado na outra, para onde fui enviado.
Uma hora depois, uma funcionária de óculos encangalhado na ponta do nariz, sem olhar para mim, perguntou o que eu queria.
Voltei à fila anterior, com um carimbo numa folha de papel. A renque agora, extremamente longa, por causa do avançado da hora.
Minha mãe ao ser atendida, informaram-lhe que teria de ir para outro setor. Neste novo setor foi realizado rápido exame e mandaram-nos falar com determinada funcionária numa sala ao lado.
Era perto de meio-dia, a funcionária havia saído para almoçar. Sentamo-nos nas cadeiras arrumadas na sala, mas fomos convidados a sair, porque ali só poderia ficar quem estivesse para ser atendido, portanto, como era horário de almoço…. Argumentei que minha mãe tinha dificuldade de locomoção e a funcionária, sem disfarçar seu aborrecimento, concordou que ela ficasse e prosseguiu fazendo palavras cruzadas.
Meio-dia e quarenta, consultei a funcionária ocupada com as palavras cruzadas, queria saber onde se daria o atendimento de minha mãe e se a pessoa responsável pelo atendimento iria demorar. Ela me mandou esperar e me perguntou se eu sabia o que era caminho determinado, com sete letras. Disse que não. E mancha na reputação, com cinco. Também não.
Uma hora de longa espera. Voltei a falar com a mesma funcionária, sabendo, de antemão, que iria ser tratado mal. Ela não me deu atenção, de imediato. Depois mandou que eu trouxesse minha mãe para junto de sua mesa de trabalho. Examinou-a rapidamente. Perguntou-me se eu sabia o que era uma espécie de gazela que vive nas regiões desérticas, com seis letras. Disse-lhe que não.
Saímos com a promessa de que, quando o exame fosse marcado, alguém telefonaria chamando.
Ao passar pela porta de saída, virei-me e respondi: trâmite, labéu e corina. E fui embora.