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“O Brasil tem que se unir em defesa da vida e na luta contra um inimigo comum que é este trágico novo Coronavírus”, disse Drª Cristiana.

O Blog realizou entrevista com a Drª Cristiana Altino de Almeida, especialista em Medicina Nuclear e Imagem Molecular, atuando no Real Nuclear, o serviço de Medicina Nuclear do Real Hospital Português de Recife. Ela fala sobre a sua experiência no combate ao Covid-19.

Leia na íntegra

Blog – Como e por que a Sra. entrou nessa guerra contra o “Coronavírus”?

Como milhões de médicos de diferentes especialidades fui jogada nessa guerra contra o Coronavírus. Primeiro porque uma pandemia é uma catástrofe e, nessa especialmente, aos problemas da doença e da mortalidade se juntaram os problemas socioeconômicos do desemprego, das falências sucessivas de empresas de vários portes, do terrível confinamento e do fechamento das fronteiras.

Com a questão do número de pacientes atendidos por COVID-19 nos hospitais e a parada dos atendimentos eletivos me ofereci pela mídia social para atender voluntariamente as pessoas que precisassem.

Alguns colegas no Recife já estavam fazendo isso, criando uma corrente do bem para fornecer alguns dos medicamentos de forma gratuita para essas as pessoas necessitadas. Então os pacientes começaram a chegar e hoje atendemos mais de 85 pessoas com resultados excelentes. Cito nesse grupo de voluntários do bem o Dr. Antônio Aguiar, Dr. Gustavo Carvalho, Dr. Gustavo Rosas. Trabalho em casa com a ajuda de toda a família.

Tentamos evitar que os pacientes que vão às unidades de saúde públicas e são encaminhados para voltar para casa com Paracetamol e medicamentos sintomáticos voltem a esses postos em fases avançadas da doença, quando o tratamento passa a ser caro e muitas vezes ineficaz. E nessas fases a mortalidade no mundo inteiro é muito alta.

Blog – Qual a sua ligação com Dra. Marina Bucar, e quem é ela?

Dra. Marina Bucar Barjud é médica clínica e Doutora em Medicina pela Universidad de Zaragoza na Espanha. Nasceu em Floriano, no Piauí, e é médica do Hospital Universitário HM Puerta Del Sur, em Madrid.

Enfrentou junto com vários médicos em muitos hospitais em Madrid a pandemia que foi terrível, fez colapsar o sistema hospitalar porque a característica da pandemia é a doença acontecer simultaneamente em várias pessoas.

Estavam nessa situação de colapso e começaram a trocar experiências entre os hospitais da cidade e de outros países e foram tentando medicamentos off label para salvar vidas. O esquema que começou a funcionar com sucesso era a associação de Hidroxicloroquina em doses usadas para o conhecido tratamento de malária com Azitromicina. E em fases avançadas da doença, a medida que se conhecia melhor a fisiopatologia da COVID-19 o uso de corticoides e de anticoagulantes.

Quando comecei a me interessar e a ler sobre a pandemia encontrei seu nome. Ela, como brasileira, estava orientando os protocolos de várias cidades no país especialmente no Piauí. Fiz contato e participei com ela de algumas teleconferências muito importantes para entender seus protocolos. Além disso ela está extremamente disponível para ajudar médicos brasileiros a enfrentar essa fase de doença. Tem aulas em YouTube, no Instagram e participa de vários grupos. Hoje mesmo tivemos uma LIVE com ela e o grupo que tirou Belém do colapso com o protocolo dela, da Itália e de Dr. Roberto Zebaloos, de São Paulo. Estavam presentes cerca de quinhentos médicos do Brasil nessa sala. A experiência de Belém no pico da pandemia com colapso dos hospitais deveria ser uma matéria para ser divulgada. Uma lição de como salvar vidas e conter a fase de pico salvando vidas. Foi emocionante.

Blog – A Srª. acha que o confinamento radical é a solução para barrar a Pandemia?

De jeito nenhum. Em qualquer infecção o segredo é a identificação das pessoas infectadas por testes e principalmente pelos sintomas clínicos, já que os testes de confirmação são escassos no mundo inteiro. Em seguida essas pessoas precisam ser afastadas e identificados seus contatos próximos que devem entrar em confinamento. Isso se chama confinamento seletivo.

Está provado que em Nova York, onde foi feito um confinamento horizontal, 84% dos casos ocorreram entre pessoas confinadas em casa e em asilos para idosos. As pessoas estão presas. O vírus está solto e passeando, principalmente nos transportes públicos superlotados no Brasil. O rodízio de carros representa uma ignorância em relação à epidemiologia. O carro é o transporte mais seguro. No carro circulam pessoas que já estão juntas. Se um rodízio de carros é estabelecido as pessoas que vão trabalhar e que fazem parte dos serviços essenciais vão andar de transporte público e aumentar o número de infectados. Quando uma pessoa que vai a uma unidade

Quando comecei a me interessar e a ler sobre a pandemia encontrei seu nome. Ela, como brasileira, estava orientando os protocolos de várias cidades no país especialmente no Piauí. Fiz contato e participei com ela de algumas teleconferências muito importantes para entender seus protocolos. Além disso ela está extremamente disponível para ajudar médicos brasileiros a enfrentar essa fase de doença. Tem aulas em YouTube, no Instagram e participa de vários grupos. Hoje mesmo tivemos uma LIVE com ela e o grupo que tirou Belém do colapso com o protocolo dela, da Itália e de Dr. Roberto Zebaloos, de São Paulo. Estavam presentes cerca de quinhentos médicos do Brasil nessa sala. A experiência de Belém no pico da pandemia com colapso dos hospitais deveria ser uma matéria para ser divulgada. Uma lição de como salvar vidas e conter a fase de pico salvando vidas. Foi emocionante.

Blog – Soubemos que a Srª junto com uma neta médica atendem e monitoram mais de 60 casos de amigos com COVID-19, como é a rotina de vocês?

Hoje temos 86 casos acompanhados de pessoas atingidas pela COVID-19 que estão em atendimento domiciliar por telefone ou WhatsApp. Esse tipo de atendimento foi permitido durante a pandemia. Temos o prontuário de todas essas pessoas, que preenchem seus dados, fazem os exame solicitados, são classificadas em função das fases da doença. São tratadas e acompanhadas diariamente duas vezes por dia e instruídas a informar qualquer alteração nos sintomas.

Minha neta, Júlia Carvalheira Altino de Almeida, tem o dom da medicina no sangue. É doutoranda da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS). Como moramos juntas ela tem sido o meu braço direito, atendendo, anotando, solicitando exames, obtendo informações.

Aliás, toda a família está envolvida com esse atendimento e entrega de medicamentos que são doados ou trocados entre os vários médicos que fazem esse tipo de atendimento domiciliar, tentando evitar as filas em hospitais ou atendendo as pessoas que retornam das unidades de saúde para casa e com sintomas.

Na realidade nossa vida passou a ter um único foco: tratar e ler sobre COVID-19. Tentamos manter um ambiente saudável e ameno, com músicas, refeições conjuntas, filmes, encontros da família por internet. Meu marido está em Portugal e tento reservar meia hora do meu tempo para falarmos por FaceTime. Tenho sorte de ter um companheiro leal, uma linda e amorosa família e amigos maravilhosos, médicos e não médicos, no Brasil, na Holanda e em Portugal. Sinto falta da vida normal mas me adaptei e estamos todos bem.

Blog – A Srª. adotou o protocolo da Espanha, proposto por Dra. Marina Bucar, como ele é e como funciona?

Sim, um grande grupo de médicos brasileiros segue o protocolo da Espanha e da Itália com resultados excepcionais. Conseguimos reunir mais de quatro mil assinaturas de médicos brasileiros de todas as especialidades e regiões do país solicitando a implantação de um protocolo de tratamento pré-hospitalar das pessoas afetadas pela COVID-19. Parte desse grupo, em reuniões que totalizaram 30 horas em uma semana, fora o tempo de trabalho de pesquisa, publicou ontem a primeira versão desse protocolo de orientação a essa fase do tratamento. Uma vitória excepcional da dedicação dessas pessoas chamadas a trabalhar na linha de frente no atendimento aos pacientes. Chamamos de Protocolo Brasileiro de Tratamento Pré-Hospitalar e está divulgado nesse enorme grupo de médicos.

As indicações para cada fase da doença, os exames laboratoriais, os exames radiológicos, a interpretação desses resultados e os medicamentos adequados para cada fase, com as doses e os cuidados necessários de acompanhamento estão bem descritos lá. O documento é público e pode ser divulgado amplamente. Onde protocolos similares foram implementados, em cidades pequenas ou por médicos que fazem esse tipo de atendimento domiciliar, tentando evitar as filas em hospitais ou atendendo as pessoas que retornam das unidades de saúde para casa e com sintomas.

Na realidade nossa vida passou a ter um único foco: tratar e ler sobre COVID-19. Tentamos manter um ambiente saudável e ameno, com músicas, refeições conjuntas, filmes, encontros da família por internet. Meu marido está em Portugal e tento reservar meia hora do meu tempo para falarmos por FaceTime. Tenho sorte de ter um companheiro leal, uma linda e amorosa família e amigos maravilhosos, médicos e não médicos, no Brasil, na Holanda e em Portugal. Sinto falta da vida normal mas me adaptei e estamos todos bem.

Blog – Esse protocolo, além de fechar todos os hospitais de campanha na Espanha, também foi adotado em Floriano/ Piauí, cidade natal da Dra. Marina Bucar, com grande sucesso, mesmo estando em um estado fortemente afetado pela pandemia. Fale um pouco dessa experiência?

Exatamente. Os números falam sozinhos. Falei acima dessa diferença. Um grande exemplo é Belo Horizonte, a terceira maior cidade do Brasil, com mais de um milhão de habitantes a mais do que o Recife. A diferença no número de mortes é gritante. Belo Horizonte tem hoje, (26 de maio), 43 mortes enquanto Recife tem 873. Por milhão de habitantes a diferença é ainda maior.

A Hidroxicloroquina vem sendo bastante debatida no meio científico mundial, podemos encontrar todos os dias estudos a favor e contra. O que a Sra. Tem a dizer dessa droga?

A Hidoxicloroquina é o medicamento mais antigo nessa história usado há mais de setenta anos para tratar a malária. E para profilaxia da malária em pessoas que viajam para zonas endêmicas dessa doença. Ainda usadas de forma contínua e segura para Lúpus e artrite reumatoide. Todos os medicamentos têm indicações e efeitos colaterais e são usadas de forma segura. Estão querendo o uso de tratamento com evidência médica tipo A numa pandemia? É quase insanidade. Começou em dezembro na China, foi conhecida no mundo a partir de janeiro com muitas informações erradas no início, quando acreditavam que a COVID-19 era uma pneumonia viral. Não é. É uma doença inicialmente viral na fase inicial onde há replicação do vírus quando ela deve ser combatida em pessoas com sintomas, principalmente em grupos de risco. A partir daí a replicação viral vai diminuindo e a resposta imunológica do hospedeiro, do portador da doença, predomina. E ela pode ser terrível, acometendo os pulmões, o sistema nervoso central, o sistema gastrintestinal ou o endotélio vascular. Chamamos de fase inflamatória onde o tratamento domiciliar também funciona na doença mais leve a moderada, mesmo com acometimento pulmonar documentado em tomografias computadorizadas.

Os maiores estudos que não mostram efeitos ou resultados da Hidroxicloroquina foram feitos em pacientes hospitalizados, em fases inflamatórias mais severas da doença, muitas vezes em unidades de terapia intensiva e em doses muito altas, em alguns casos próximas da dose considerada letal.

Não uso esse estudos como parâmetro contra o uso do medicamento. Nas fases iniciais da doença, em doses adequadas, com as indicações precisas, os cuidados necessários e as restrições em pessoas com tendência a arritmias cardíacas o medicamento é seguro. É tão simples. Acho que alguém precisa desenhar para a diferença ser entendida. O Ministério da Saúde ontem manteve sua posição de tratamento pré-hospitalar e do uso da Hidroxicloroquina e eu nosso grupo de médicos pela Vida assinamos embaixo. A droga é considerada off label sim, porque não há estudos randomizados, duplo cego, com uso de placebos planejados durante uma pandemia. Mas também não há estudos desse tipo para nenhum dos tratamentos atuais para o novo Coronavírus. Isso significa que todos os medicamentos são off label para essa nova doença. Não para as doenças para a qual ela sempre foi aplicada. Então o que mudou que fez a Hidroxicloroquina ficar perigosa? Uma pergunta que após a pandemia exigirá uma resposta clara.

Há sim experiência de uso da Hidroxicloroquina em vários grupos e países do mundo, como em Marselha, na Itália e na Espanha. Nos últimos países, tardiamente, no pico da epidemia. mesmo com acometimento pulmonar documentado em tomografias computadorizadas.

Os maiores estudos que não mostram efeitos ou resultados da Hidroxicloroquina foram feitos em pacientes hospitalizados, em fases inflamatórias mais severas da doença, muitas vezes em unidades de terapia intensiva e em doses muito altas, em alguns casos próximas da dose considerada letal.

Não uso esse estudos como parâmetro contra o uso do medicamento. Nas fases iniciais da doença, em doses adequadas, com as indicações precisas, os cuidados necessários e as restrições em pessoas com tendência a arritmias cardíacas o medicamento é seguro. É tão simples. Acho que alguém precisa desenhar para a diferença ser entendida. O Ministério da Saúde ontem manteve sua posição de tratamento pré-hospitalar e do uso da Hidroxicloroquina e eu nosso grupo de médicos pela Vida assinamos embaixo. A droga é considerada off label sim, porque não há estudos randomizados, duplo cego, com uso de placebos planejados durante uma pandemia. Mas também não há estudos desse tipo para nenhum dos tratamentos atuais para o novo Coronavírus. Isso significa que todos os medicamentos são off label para essa nova doença. Não para as doenças para a qual ela sempre foi aplicada. Então o que mudou que fez a Hidroxicloroquina ficar perigosa? Uma pergunta que após a pandemia exigirá uma resposta clara.

Há sim experiência de uso da Hidroxicloroquina em vários grupos e países do mundo, como em Marselha, na Itália e na Espanha. Nos últimos países, tardiamente, no pico da epidemia.

A letalidade nos países europeus durante a pandemia está entre 12 e 14% considerando países duramente atingidos até pela sua população de idosos e pela sua alta densidade populacional como Espanha, Itália, França (exceto Marselha), Holanda, Bélgica e surpreendentemente a Suécia, que não fez confinamento.

Quando analisamos países que fizeram corretamente o distanciamento social e usaram terapia em geral por antivirais tipo Coreia do Sul, Japão, Alemanha e Israel, a letalidade cai para entre 4 e 5%.

Nos locais que usam o protocolo de Hidroxicloroquina até como profilático para médicos e agentes de saúde como a Índia (exceto Nova Delhi), Marselha, New Brunswick, no Canadá, Rússia, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Marrocos, Argélia e Senegal por exemplo, a letalidade cai para abaixo de 1% chegando a 0,5%. Números falam e cantam.

Blog – Me fale um pouco das estatísticas dos pacientes que a Sra. acompanhou e acompanha nesse período?

Atualmente trato cerca de 86 pessoas entre a fase viral sintomática com alterações laboratoriais e às vezes pulmonar discreta e as fases inflamatórias leve e moderada com alterações pulmonares bem evidentes e alterações de coagulação. Tivemos um único internamento por dois dias por pneumonia bacteriana pós COVID. Num grupo bem maior de pessoas tratadas por médicos amigos, temos mais de 500 pacientes com um único óbito por problemas crônicos associados, dois internamentos por pneumonia bacteriana e quatro por adenite mesentérica por COVID-19, um quadro que se confunde com apendicite. Vamos fazer o levantamento de muito mais casos. Não tivemos tempo ainda de fazer estatísticas como não houve tempo para trabalhos de evidências científicas tipo A no mundo. Pandemia é guerra. Temos que salvar vidas com nossas vivências médicas e com os novos conhecimentos que se atualizam todos os dias.

Por fim, quando e como o Brasil poderá sair dessa Pandemia e voltar à sua vida normal?

O Brasil é um país continental e com enormes diferenças entre suas regiões. Enquanto algumas cidades melhoram outras ainda estão começando o surto. O número de casos novos varia em função de notificações e de número de testes. Deve ser teoricamente 10 a 15 vezes maior do que o notificado oficialmente. Acredito que está havendo uma pequena tendência para queda que seria maior se os protocolos de tratamento nas fases iniciais e se as políticas corretas de distanciamento social e confinamento seletivo fossem implantados. Por essas políticas lutamos.

Espero que passe rápido. Esse período é um pesadelo. E não pensamos nos efeitos seríssimos do confinamento, na depressão, nas doenças crônicas evoluindo, no aumento de mortes em casa por parada cardiorrespiratória (só na cidade de Nova York esse número cresceu 800% – não é erro de digitação). Nos pacientes não-COVID que estão em casa e não procuram médicos ou hospitais, na suspensão dos atendimentos eletivos, na mudança de prognóstico, do futuro dos pacientes novos de câncer, no adiamento de tratamentos necessários e de radioterapias. Acontecendo no mundo inteiro como num filme de terror. Temos que pensar também no desemprego, na falência de inúmeras empresas, na fome, na miséria, no aumento das doenças endêmicas e crônicas.

Temos que sair dessa fase de medo, de angústia, de isolamento, de falta de contato físico, de beijo, de afastamento das famílias, de mortes solitárias, de funerais sem homenagens, de mortos sem a missa tradicional. Temos que sair desse tempo de trevas, de falta de liberdade, que é nossa maior conquista.

O Brasil tem que se unir em defesa da vida e na luta contra um inimigo comum que é este trágico novo Coronavírus.

Que tenhamos forças para continuar nessa luta agradecendo aos médicos e profissionais de saúde que estão na linha de frente arriscando suas próprias vidas e a esse enorme contingente de anônimos que fazem o país funcionar.


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