Por: Maciel Melo.
Não dá mais pra segurar…
A lama fúnebre que soterrou o rio doce, começou vazar de novo, numa barragem muito mais mortífera do que a de Mariana. O poder. Esse sim é um reservatório de de tudo que é podre, de tudo que é letal. Em 1984, quando coloquei um violão nas costas, o sonho no peito e a esperança na mente, achei que tinha feito o meu dever de casa. Diretas já! O povo estava nas ruas. Dante de Oliveira criava uma emenda pedindo eleições diretas para presidente da república. Não me arrependo disso. Cumpri meu papel de brasileiro, patriota e cidadão. A democracia está na pedra, esperando reconhecimento de corpo. Os urubus estão rondando o céu do seu entorno. Não vai sobrar uma migalha sequer, se não aparecer alguém que estorne os arrotos da arrogância, costure a boca banguela do facismo, e dê um basta nessa podridão que enlameia nossa pátria, e ensopa nossa bandeira de sangue, suor e lágrima. O suor que cai da face dos trabalhadores, que pinga na terra seca dos sertões do Brasil, e desidrata a alma desse povo sofrido que não tem noção do tanto que se rouba nesse país. O sangue que escorre pelos becos das favelas dos grandes centros urbanos, que coalha nas calçadas onde deveria haver crianças brincando de amarelinha, ou nos terrenos baldios onde os meninos brincavam de jogar bola.
A lágrima que irriga os olhos de tantos pais de família, que muitas vezes prendem o choro pra não demonstrar fraqueza diante dos filhos, e fazem das tripas coração pra não vê-los pelos sinais de trânsito, nem nas cracolândias da vida. Cadê aquela parte do hino nacional, onde diz: “Se o penhor dessa igualdade…. ” Cadê aquela parte que diz: “Mas se ergues da justiça a clava forte…” É! Tá difícil de engolir tudo isso. A palavra escrúpulo foi banida do dicionário político do Brasil. Na década de setenta eu ouvia uma música que dizia: “Nada de novo no fronte, na reta guarda também… ” Pois é. Hoje seria um hit. Viva o “Ave Sangria”.