Por Pedro Alves, G1 PE
Uma médica que atuava no combate à pandemia do novo coronavírus morreu no Recife, vítima da doença Covid-19, de acordo com o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe). Ela foi a primeira profissional da categoria a morrer com o vírus, apontou o conselho. Rosa Maria Papaléo era anestesiologista e acupunturista, atuava há 32 anos na profissão e era uma das pioneiras no segmento de tratamento de dores no estado.
A profissional morreu na quinta-feira (30), no Hospital São Marcos, no Centro da cidade. O G1 entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde para confirmar o exame positivo para Covid-19 da médica, mas não recebeu resposta até a última atualização desta reportagem.
Segundo o Cremepe, que lamentou a perda em nota, ela era tida como “desbravadora” no tratamento de dores, sendo, inclusive, ao longo de sua carreira, secretária na Sociedade de Dor de Pernambuco e especialista em termografia, técnica de registro das temperaturas de diversos pontos do corpo, pela Associação Brasileira de Termologia.
Rosa Maria Papaléo era formada pela Universidade de Pernambuco (UPE), tinha especialização em medicina do trabalho e acupuntura com curso realizado na China.
“Reconhecida pelos colegas e amigos médicos como uma mulher doce, empática, amiga e muito trabalhadora, Rosa trabalhou nos hospitais São Marcos, Oswaldo Cruz (Huoc) [hospital de referência para Covid-19], Real Hospital Português e na rede Unimed Recife”, disse o Cremepe, por meio de nota.
Colega de trabalho e amigo da médica, o anestesiologista José Barbosa Júnior chamava Rosa de “mama”. Segundo ele, ela deixa um rico legado na anestesiologia. Ela, que dava plantões em hospitais particulares, foi internada com sintomas da Covid-19 no dia 19 de abril.
“Ela foi uma das pioneiras no tratamento da dor, que hoje é uma especialidade médica, mas antes não era. Quando se começou a falar em dor, mais de 20 anos atrás, ela foi uma das pessoas que começaram um movimento dessa especialidade aqui no Recife”, disse o médico.
Ainda segundo José Barbosa Júnior, a médica fazia parte do grupo de risco para agravamento da Covid-19 por múltiplos fatores, mas, mesmo assim, se recusou a deixar o trabalho.
“Ela tinha seus 65 anos, era hipertensa, diabética e tinha obesidade mórbida. Alguns profissionais optaram por se afastar, mas ela foi uma das que decidiram ficar [trabalhando]. Continuou dando os plantões dela, então, terminava se expondo, mesmo com os equipamentos de proteção. Ela era muito carinhosa, muito gentil, muito acolhedora. As pessoas gostavam muito dela”, afirmou.
Na segunda-feira (27), o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, disse que, até então, 10 profissionais de saúde tinham morrido, mas que não necessariamente todos trabalhavam no enfrentamento da pandemia. Eram quatro enfermeiros, um auxiliar de enfermagem, duas técnicas em enfermagem, um técnico de laboratório, um dentista e um condutor de ambulância.
Ainda segundo o anestesiologista, a médica perdeu a mãe poucos dias antes de morrer, e, na UTI, sequer ficou sabendo da morte. Ela não era casada e não teve filhos.
“A mãe dela teve um acidente vascular cerebral há alguns anos e morava com ela. Ela morreu no dia em que Rosa foi internada na UTI, que nem soube do falecimento [da mãe]. Achamos que também foi por Covid-19, porque a irmã dela também está com a doença”, declarou.